Para compreender essa busca por melhor qualidade de vida, tivemos o privilégio de entrevistar o Dr. Thiago José Martins Gonçalves, Médico Nutrólogo e Doutor em Ciências da Saúde, que nos proporcionou uma visão aprofundada e esclarecedora sobre esses temas cruciais. Ao longo desta entrevista, o Dr. Thiago compartilhou sua vasta experiência e conhecimento, desmistificando muitos aspectos relacionados à suplementação alimentar, discutindo estratégias para um envelhecimento saudável e explorando as últimas inovações na área da nutrologia. Esta entrevista busca não apenas apresentar os valiosos insights provenientes dessa conversa, mas também inspirar e informar aqueles que estão em busca de uma vida mais plena e saudável.
1. Dr. Thiago, poderia nos explicar o que é a suplementação alimentar e em quais casos ela se faz necessária?
Suplementação alimentar é um complemento à alimentação normal e tem como objetivo auxiliar em algumas situações nas quais são necessárias uma maior ingestão de energia, proteínas e/ou micronutrientes (vitaminas e minerais). Pessoas com perda de peso não intencional, desnutrição, pacientes em tratamento de câncer, mulheres gestantes e pessoas idosas são alguns exemplos de necessidade de suplementação alimentar.
2. Existem riscos associados ao uso indiscriminado de suplementos alimentares? Como podemos utilizá-los de forma segura e eficaz?
Os suplementos alimentares devem ser indicados individualmente e prescritos pelo seu médico ou nutricionista, sempre de acordo com a necessidade personalizada (grau de atividade física, peso corporal, doenças associadas). O uso indiscriminado de suplementos alimentares e em megadoses podem causar náuseas, vômitos, alterações de pele (acne), distúrbios hepáticos e renais.
3. Com tantas opções disponíveis no mercado, como os indivíduos podem escolher o suplemento alimentar mais adequado às suas necessidades?
Como o mercado de suplementos alimentares é amplo e diversificado, vale sempre procurar por suplementos de fabricantes e fornecedores confiáveis e reconhecidos. Uma dica é sempre verificar se os suplementos têm o selo de qualidade e se é certificado pelos órgãos reguladores (Anvisa). Evite adquirir suplementos de sites ou vendedores não autorizados.
4. Há alguma tendência ou novidade em suplementos alimentares que tem ganhado destaque atualmente?
Sim, devido ao envelhecimento populacional e consequente perda de massa muscular, temos observado um aumento expressivo de suplementos alimentares rico em proteínas de fontes diversas como proteína do soro do leite (whey protein), proteínas vegetais (ervilha, arroz, soja) e colágeno hidrolisado. Alguns tipos de proteínas estimulam a hipertrofia muscular, reduzindo a perda de músculo no processo de envelhecimento.
5. O envelhecimento natural do corpo afeta a forma como devemos abordar a suplementação alimentar?
De fato, uma série de modificações metabólicas e na composição corporal durante o envelhecimento fisiológico fazem com que o resultado seja a redução da massa livre de gordura (redução de músculos e ossos) e diminuição no metabolismo energético basal.
Além disso, alterações no paladar, olfato, digestivas (menor motilidade do tubo digestivo e menor secreção gástrica), alta ocorrência de polimedicação e toda a consequência do excesso de medicamentos acabam por lentificar ainda mais o gasto energético, influenciando negativamente no estado nutricional das pessoas idosas. Sendo assim, a maioria das pessoas idosas necessita de suplementação nutricional para equilibrar essas alterações metabólicas e corporais.
6. Existem suplementos específicos que são mais benéficos para pessoas idosas, visando a manutenção da saúde e prevenção de doenças relacionadas à idade?
Sim, o cuidado nutricional na pessoa idosa compreende múltiplas abordagens, incluindo a orientação e supervisão nutricional, enriquecimento das refeições, fornecimento de lanches intermediários e de suplementos nutricionais.
A suplementação ou enriquecimento da dieta pode ser realizada adicionando alimentos naturais ou nutrientes específicos às refeições para aumentar o aporte energético como utilização de módulos de proteína em pó, maltodextrina, triglicerídeos de cadeia média (TCM) em alimentos de rotina e de preferência para o idoso, aumentando assim a densidade calórica e proteica de refeições e bebidas, sem grande aumento no volume, muitas vezes, mascarando o sabor e o tipo de suplementação no momento de uma refeição.
Suplementos nutricionais ricos em proteínas (whey protein), com alta concentração do aminoácido leucina, auxiliam no tratamento da perda de massa muscular e melhora da força e função física. Suplementos alimentares com vitamina D e cálcio, em doses habituais, para a pessoa idosa também contribuem para a manutenção de uma boa saúde óssea.
7. Como a suplementação pode auxiliar na manutenção da massa muscular e força nos idosos?
No processo de envelhecimento, pelas próprias alterações metabólicas, ocorre um fenômeno denominado resistência anabólica muscular, ou seja, pessoas idosas necessitam de uma maior ingestão de proteína para atingir ou manter uma síntese proteica muscular adequada.
Isso ocorre por alteração das mitocôndrias musculares, deficiências hormonais e processos inflamatórios celulares que reduzem a oferta e a disponibilidade de aminoácidos musculares pós-prandiais. Portanto, o uso de suplementos nutricionais proteicos, de preferência, na forma em pó ou líquida, fazem com que pessoas idosas atinjam as necessidades proteicas e mantenham a massa muscular e força.
Sobre Tecnologias e Inovações em Suplementação Alimentar:
8. De que forma a tecnologia tem influenciado o desenvolvimento e a produção de suplementos alimentares nos últimos anos?
A tecnologia e as inovações em suplementação alimentar têm propiciado uma diversificação de produtos no mercado e maior acesso ao público geral, pois estão amplamente presentes em supermercados. Atualmente, temos observado suplementos com melhor palatabilidade, sabores diversos (ou mesmo sem sabor), pó de suplementos com microcápsulas de ômega-3 (o que retira do suplemento o gosto de “óleo de peixe”), suplementos com proteínas hidrolisadas (proteína quebrada em peptídeos, o que facilita a digestão), produtos isentos de lactose e/ou glúten, específicos para aquelas pessoas com intolerâncias alimentares específicas.
9. Como a ciência e a pesquisa têm contribuído para a criação de suplementos mais seguros, eficazes e adaptados às necessidades individuais?
A pesquisa clínica em nutrição tem auxiliado na elaboração de suplementos alimentares com nutrientes específicos e direcionados para necessidades individuais como por exemplo os suplementos alimentares proteicos ricos no aminoácido leucina para tratamento de sarcopenia (perda de massa e força muscular associada ao envelhecimento). Estudos recentes demonstraram que a leucina estimula diretamente a síntese de proteínas na massa muscular esquelética e deve ser ingerido em doses estabelecidas durante as três principais refeições do dia (café da manhã, almoço e jantar).
10. Dr. Thiago, existem suplementos que são considerados obrigatórios ou essenciais para a maioria das pessoas, ou essa necessidade varia de indivíduo para indivíduo?
Não, a indicação de suplementos alimentares deve ser personalizada e individualizada, sempre indicada para casos nos quais a ingestão alimentar está reduzida ou quando as necessidades energéticas estão aumentadas (doenças, infecções etc.). Sempre consulte seu médico ou nutricionista antes de iniciar a suplementação alimentar.
11. A creatina é um suplemento muito popular, especialmente entre atletas e praticantes de atividade física. Quais são os benefícios reais da creatina e existe algum risco associado ao seu uso prolongado?
A creatina é uma associação de três aminoácidos: arginina, glicina e metionina. Ela é um suplemento seguro, quando ingerida em doses estabelecidas, para melhora da massa muscular, porém com um grande benefício para melhora da força física. A creatina se une ao complexo energético muscular (fosfocreatina) e é responsável pela contração muscular rápida por fibras musculares específicas. Além do uso para atletas e praticantes de atividade física, a creatina é um ótimo suplemento alimentar para pessoas idosas, já que auxilia no tratamento da sarcopenia e tem importante efeito ergogênico. Mas atenção, durante o uso de creatina existe a necessidade de maior consumo de líquidos devido a maior tendência de desidratação. Portanto, há necessidade de acompanhamento médico e nutricional.
12. A vitamina D tem recebido muita atenção nos últimos anos, principalmente devido à sua relação com a saúde óssea e o sistema imunológico. Como podemos saber se precisamos suplementar vitamina D e quais são as dosagens seguras?
Sim, a vitamina D é necessária para obter uma absorção adequada de cálcio oriundo da dieta alimentar. Em casos de níveis baixos de vitamina D, o cálcio ingerido não é totalmente absorvido no intestino e o corpo tende a retirar cálcio dos nossos ossos, aumentando o risco de perda óssea ou até mesmo osteoporose.
A vitamina D também tem um papel importante no controle do sistema imunológico, ou seja, na defesa do organismo contra agentes causadores de doenças. Há vários estudos experimentais em que a vitamina D mostrou estimular a proliferação de células de defesa e a produção de substâncias antimicrobianas, aumentando, assim, a eliminação de bactérias, vírus e fungos. Porém vale lembrar que doses seguras de vitamina D dependem dos níveis sanguíneos e necessidades de acordo com idade, alimentação e doenças associadas. Doses elevadas de vitamina D ou acima das recomendadas podem causar danos à saúde.
13. As vitaminas do complexo B são essenciais para diversas funções do nosso corpo. Em que situações a suplementação de vitaminas B se faz necessária e como ela pode beneficiar nossa saúde?
As vitaminas do complexo B são vitaminas hidrossolúveis (solúveis em água), que, geralmente, atuam como coenzimas (substância necessária ao funcionamento de certas enzimas). Essas vitaminas, assim como as outras existentes, devem ser incluídas em nossa dieta, e sua deficiência pode causar problemas de saúde. As vitaminas do complexo B são: vitamina B1 (tiamina), vitamina B2 (riboflavina), vitamina B3 (niacina), vitamina B5 (ácido pantotênico), vitamina B6 (piridoxina), vitamina B7 (biotina), vitamina B9 (ácido fólico) e vitamina B12 (cobalamina).
Em casos de deficiência, há necessidade de suplementação, pois pode causar anemia, palidez, fraqueza, fadiga, e, se for grave, falta de ar e tonturas. Por exemplo, uma deficiência grave de vitamina B12 pode lesionar os nervos, causando formigamento ou perda de sensibilidade nas mãos e nos pés, fraqueza muscular, perda de reflexos, dificuldade em andar, confusão e demência.
14. Ômega-3 é um suplemento muito popular, principalmente para saúde cardiovascular. Quais são as melhores fontes de Ômega-3 e como ele ajuda na manutenção da saúde do coração?
O ômega 3 é um dos suplementos alimentares mais populares e conhecidos pela população geral. O ômega 3 pode fortificar a saúde cardiovascular, já que o EPA, um dos integrantes do ômega 3, atua como um modulador anti-inflamatório das células. Ele mantém a flexibilidade das membranas celulares, como o tecido endotelial, que reveste o interior dos vasos sanguíneos e as câmaras do coração. Esse tecido é o responsável por controlar a passagem dos nutrientes e saída dos resíduos do sistema vascular.
15. Muitas pessoas utilizam suplementação de cálcio para fortalecer os ossos. Existe algum risco associado à suplementação de cálcio e como podemos utilizá-lo de forma segura?
A prescrição de suplementos de cálcio para prevenir ou tratar distúrbios ósseos, como a osteoporose, tornou-se uma conduta comum, principalmente para pessoas acima dos 50 anos. Os comprovados benefícios da importância do cálcio na manutenção da massa óssea, aliado a baixa ingestão brasileira de cálcio (50% das doses recomendadas para a idade) faz com que os suplementos de cálcio sejam amplamente consumidos.
A forma mais segura é seguir a prescrição médica com dosagem adequada e recomendada para sua necessidade. O consumo excessivo de suplementação de cálcio pode interferir na saúde cardiovascular, causar alterações intestinais como constipação, náuseas, vômitos e distúrbios renais.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
Dr. Thiago José Martins Gonçalves (CRM/SP 117.524)
Médico Nutrólogo e Doutor em Ciências da Saúde
Presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN) vinculada à Associação Médica Brasileira (AMB)
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