Já falamos por aqui sobre tech neck ou text neck, e trouxemos a reflexão do impacto da tecnologia no estilo de vida das pessoas. Depois dessa matéria, recebi mensagem de dois pais de adolescentes me perguntando se os cuidados poderiam ser menores com a saúde dos mais jovens. E mesmo antes de revisar a literatura para esse conteúdo, eu respondi categoricamente que não! Na verdade, a preocupação com crianças e adolescentes deve ser ainda maior. E não de um ponto de vista de saúde da coluna apenas, mas de uma saúde global de um ser ainda em desenvolvimento e formação!
Tempo permitido para exposição à tela por jovens
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, as telas não devem ser usadas por crianças com menos de 2 anos de idade. Entre os 2 a 7 anos, limitar a apenas 1 hora por dia. Acima dessa idade, 2 horas por dia, e para adolescentes limitando a, no máximo, 3 horas o tempo exposto às atividades de tela —incluindo não apenas celular, mas televisão, videogame e computadores também.
Uma revisão sistemática de estudos com jovens mostrou uma realidade absolutamente diferente em que a prevalência de tempo foi superior a 50%. A elevada prevalência de adolescentes expostos a tempo excessivo de tela causa preocupação e, por isso, cada vez mais estudos começam a se fundamentar em sua associação a diversos problemas de saúde, alterando a perspectiva do desenvolvimento e maturação em um momento crucial de aquisição de habilidades físicas, sociais e emocionais dos jovens.
Malefícios do uso excessivo de telas
Sugere-se que os hábitos e comportamentos desencadeados pelas telas predisponha ao sedentarismo e, consequentemente, ao aumento da obesidade com todas as implicações, como maior chance de síndrome metabólica na vida adulta.
Em relação à saúde mental, estudos apontam que o uso de telas por mais de 2 horas por dia pode estar associado a mais sintomas de ansiedade e depressão nas crianças e adolescentes. Para se ter ideia do impacto, um recente estudo apontou que crianças de 1 ano que usaram telas por tempo prolongado apresentaram maior índice de atraso na comunicação e resolução de problemas entre os 2 e 4 anos.
Sabe-se que as telas afetam o sistema de funcionamento do cérebro sendo que o tempo de tela dessensibiliza o sistema de recompensa do cérebro tornando necessário cada vez mais estímulo, isso é, tempo de tela para que haja a mesma sensação de prazer e recompensa —praticamente um vício se consolida no cérebro de pessoas ainda em formação.
Uso do celular e as dores no pescoço
Como se todos os dados não bastassem, caso a dúvida da necessidade de limitar o uso de telas ainda exista, uma revisão demonstrou que uma queixa comum em adolescentes que usam especificamente o celular, é a dor de pescoço e em trapézio (parte de cima das costas). Está presente em 55,8% a 89,9% dos casos de reclamação dos jovens. Mais além, o uso do celular parece também se relacionar a queixas comuns que ocorrem em adultos como: síndrome do desfiladeiro torácico, tendinite e síndrome de De Quervain, mais comumente associadas a movimentos repetitivos, por exemplo.
Na área de ortopedia, mais estudos prospectivos e revisões sistemáticas precisam respaldar o impacto real x tempo de uso de telas no pescoço, punho e a sintomas neurológicos periféricos em adolescentes. Mas apesar de sem desfecho, os estudos já encontrados na literatura, inferem os efeitos negativos da exposição excessiva, ao incluir repercussões e sintomas oculares, problemas psicológicos, sintomas neurológicos e de baixo desempenho acadêmico. Por isso, até lá vale seguirmos critérios para o controle do uso de telas em crianças e jovens.
O que eu devo fazer pelo meu filho?
A tecnologia é um caminho sem volta. Os adolescentes serão expostos ao seu uso e, quando bem orientados, podem fazer bom uso sem prejudicar a saúde mental, física e emocional. Mais do que limitar a tela é garantir que o jovem receba a informação correta do que fazer para substituir/ suprir esse tempo grande que hoje é gasto com a tela, seja da tv, do notebook ou mais comumente do celular.
Os pais acabam educando pelo exemplo. Muitas vezes nós mesmos não percebemos como perpetuamos e criamos hábitos indesejados para os jovens. Queremos filhos saudáveis e que sejam ativos, que tenham limites sadios no uso de tanta tecnologia, mas atualmente somos uma geração que pode estar comunicando absolutamente errado através do exemplo. Falamos muito sobre a auto observação quando se pensa em mudar hábitos, e todo pai e mãe sabem que após o nascimento dos filhos, ela chega de forma constante para que nos tornemos melhores por nós e pelos filhos.
Pais que se exercitam, que não usam celular indiscriminadamente e conversam olho no olho dão o exemplo, e constroem um limite naturalmente sadio de estilo de vida familiar que influencia por toda a vida adulta dessa criança em formação.
Claro, e finalizo com a mesma orientação feita no nosso artigo anterior sobre o tech neck em adultos. Caso a dor na criança e jovem já esteja presente, é possível tratar e amenizar a dor sem medicação através da liberação da musculatura, orientação postural, alongamento e fortalecimento muscular garantindo que esse jovem possa movimentar o corpo e voltar a ter um estilo de vida com menos telas e mais atividades motoras, físicas e sociais, que é onde a vida real realmente deveria acontecer nessa fase.
*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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