Como pessoa com deficiência, iniciar esta coluna sem abordar a pauta central de luta de qualquer ativista do universo PCD seria ignorar a essência da minha experiência. Estamos aqui para discutir a acessibilidade, ou melhor, a sua escassez.
Nos últimos 15 anos, desde que me tornei cadeirante, tenho testemunhado avanços notáveis no cenário de inclusão e acessibilidade. Contudo, ainda há muito a ser aprimorado, uma vez que, segundo o IBGE as pessoas com deficiência representam 8,9%, cerca de 18,6 milhões da população nacional.
Não se trata apenas de políticas públicas para promover e aprimorar o acesso; é também uma necessidade crescente de conscientização social. A acessibilidade e a inclusão transcendem rampas e adaptações físicas; são uma jornada que redefine a própria noção de inclusão. Em um país que evolui, a acessibilidade se torna não apenas um direito individual, mas um direito coletivo.
A acessibilidade no Brasil será sempre um desafio, dada a vasta diversidade regional, geográfica e cultural, juntamente com as disparidades socioeconômicas em um país de dimensões continentais. No entanto, é imperativo que a acessibilidade vá além do discurso da inclusão e se torne parte integrante de uma sociedade mais justa e igualitária. Nos últimos anos, o Brasil tem progredido na maneira como encaramos a acessibilidade, indo além das normativas e transformando-a em uma causa coletiva.
Sabemos que ainda estamos longe do ideal e que essa luta e construção precisam ser constantes. No entanto, é importante destacar alguns avanços recentes, como a implementação da Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que trouxe à tona a necessidade de adaptações nas estruturas físicas, garantindo direitos fundamentais às pessoas com deficiência. Rampas, elevadores e espaços adaptados tornaram-se mais presentes, especialmente em áreas urbanas.
No entanto, ao percorrer as paisagens urbanas, nos deparamos com desafios persistentes. Calçadas esburacadas, falta de sinalização adequada e transporte público ainda não totalmente adaptado são obstáculos diários enfrentados por pessoas com deficiência. Por isso, não basta apenas implementar leis e normativas; é essencial um controle de fiscalização efetivo para garantir o cumprimento dessas regulamentações.
Desde a implementação de leis específicas até a crescente conscientização, percorremos um longo caminho na promoção da acessibilidade. Rampas, elevadores, sinalizações adequadas e espaços adaptados tornaram-se mais presentes, mas a verdadeira mudança vai além do concreto.
A essência da acessibilidade vai além das adaptações físicas. Ela reside na compreensão de que a inclusão é um benefício coletivo. Uma rampa que facilita a passagem de uma cadeira de rodas não apenas remove barreiras para quem a utiliza, mas também abre caminho para pais com carrinhos de bebê, idosos e qualquer pessoa que necessite de uma locomoção mais fácil.
Imagine uma sociedade onde a acessibilidade é vista como uma responsabilidade compartilhada. A mesma rampa que proporciona independência a uma pessoa com mobilidade reduzida é a mesma que facilita o dia a dia de muitos outros. Essa visão coletiva não apenas elimina obstáculos físicos, mas também os sociais.
Educar a sociedade sobre a importância de uma perspectiva coletiva é fundamental. A conscientização sobre as necessidades dos outros e o estímulo à empatia criam uma base sólida para a construção de um ambiente verdadeiramente acessível. Ações individuais somadas resultam em um impacto coletivo significativo. Quando cada cidadão compreende que seu papel é vital na construção de uma sociedade inclusiva, o progresso é inevitável. Cada passo dado em direção à acessibilidade é uma vitória que transcende a esfera individual.
A acessibilidade, quando encarada como uma causa coletiva, transforma não apenas o ambiente físico, mas também a mentalidade da sociedade. Em cada rampa, em cada espaço pensado para inclusão, construímos não apenas estruturas sólidas, mas alicerces para uma sociedade mais compassiva, onde todos têm espaço para prosperar.
Num país tão diverso, a realidade da acessibilidade no Brasil é uma narrativa em constante evolução. Ao enfrentarmos os desafios de frente, promovemos não apenas mudanças tangíveis nas estruturas, mas também uma transformação cultural. Acessibilidade é um direito de todos, e a jornada para torná-la uma realidade em todo o Brasil requer esforços contínuos, conscientização e um compromisso coletivo para construir um país verdadeiramente inclusivo.
Contamos com você para isso!
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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