As nossas emoções são nossas companheiras do momento em que nascemos até os nossos últimos suspiros, e desempenham um papel significativo em nosso cotidiano durante todo esse tempo. Elas moldam a nossa experiência e guiam as nossas decisões e comportamentos. Embora algumas emoções sejam agradáveis e atrativas, outras podem ser desafiadoras e opressoras. É crucial reconhecer que todas as emoções, sejam positivas ou negativas, servem a um propósito essencial e contribuem para o nosso bem-estar geral. Nesta minha coluna da Isto É Bem-estar vou explorar um modelo interessante para entendermos as nossas emoções: o modelo dos três componentes. Esse modelo é útil porque nos ajuda a entender como as emoções funcionam e nos prepara para gerenciá-las de maneira satisfatória, evitando que sejamos controlados e soterrados por elas.

 

Vamos ao modelo dos três componentes das emoções

As nossas experiências emocionais podem ser divididas em três componentes: pensamentos, sensações físicas e comportamentos. Esses componentes trabalham juntos para moldar nossas respostas emocionais diante de diferentes situações. Ao interagir entre esses componentes, podemos compreender como as emoções se manifestam e nos afetam. Veja a seguir:

 

Pensamentos

Nossos pensamentos desempenham um papel crucial na formação de nossas experiências emocionais. Cada uma das emoções tem pensamentos típicos associados a ela. Por exemplo, diante de ansiedade e palpitações ao entrar em um local lotado, alguém pode pensar: “se meu coração bater mais rápido vou ter que sair daqui”; “estou fraco por ter essas crises”; “eu já deveria ter vencido essa ansiedade”. Ainda, ao acordar de mau humor, alguém pode pensar: “isso vai estragar meu dia”, “preciso sempre começar bem o dia”, “não tenho grandes problemas, sou tão ingrato por me sentir assim” ou ”preciso me sentir 100% para funcionar bem”. Muito importante: padrões de pensamento negativos, como autocrítica, tendência a entender o evento que desencadeou a emoção e a própria emoção de forma pessimista ou até catastrófica podem justamente intensificar as emoções desagradáveis. Assim, forma-se um círculo vicioso, em que o pensamento, afetado pela emoção, acentua essa mesma emoção. 

Sensações físicas00

As emoções são frequentemente acompanhadas por sensações físicas, como coração acelerado, músculos tensos ou frio na barriga. Estas reações corporais são as manifestações fisiológicas de nossas experiências emocionais. Prestar atenção a esses sinais físicos pode fornecer informações valiosas sobre nosso estado emocional e nos ajudar a reconhecer e lidar com nossos sentimentos. Por exemplo, aquela mesma pessoa que teve palpitações ao entrar em algum lugar, pode pensar: “essas palpitações podem significar que minha saúde está em risco”, “preciso ir a um pronto-socorro!”. Dessa forma, a interpretação do significado das sensações físicas que surgiram diante de ansiedade contribuiu para que o indivíduo ficasse mais ainda tomado pela emoção.

 

Comportamentos

Nossos comportamentos e ações estão intimamente ligados às nossas respostas emocionais. Cada uma das nossas emoções têm seus comportamentos típicos associados. Por exemplo, sentimentos de ansiedade podem levar a comportamentos de evitação, enquanto a tristeza pode resultar em afastamento de atividades sociais. Isto é, emoções nos trazem tendência comportamentais automáticas. Chamamos esses comportamentos de “comportamentos impulsionados por emoções”. Agora, imagine uma pessoa constantemente ansiosa (tensa, preocupada, apreensiva). Como seria o comportamento dessa pessoa? Provavelmente guiado por essas emoções… O problema disso não é somente o sofrimento relacionado à ansiedade, mas também o indivíduo se guiar (tomar decisões importantes, por exemplo) sob controle da ansiedade, e não em função de reflexão baseada nos seus valores e interesses pessoais. 

 

Mas, vale a pena incluir uma cautela sobre o papel das emoções

É essencial reconhecer que todas as emoções, incluindo aquelas tradicionalmente vistas como “negativas”, desempenham funções importantes nas nossas vidas. As emoções nos levam a prestar atenção em situações específicas e podem nos motivar a agir de maneira útil. Ao reconhecer a natureza informativa das emoções, podemos desenvolver uma compreensão mais profunda de nós mesmos e de nossas experiências. Aliás, eu falei muito disso na minha coluna do dia 24/10, em que descrevi como uma dimensão muito importante da nossa personalidade tem relação com emoções negativas e gerenciamento de estresse.

Entretanto, quando as emoções são muito intensas, duradouras, desproporcionais aos seus desencadeantes, excessivamente sofridas e difíceis de gerenciar, podem nos trazer muitos problemas. E como as emoções se tornam assim tão avassaladoras nas vidas das pessoas? Através de dois mecanismos: reatividade aversiva e evitação emocional.

Isto é, os indivíduos podem evitar ativamente situações ou atividades que provoquem emoções desafiadoras. No entanto, confrontar estas emoções e envolver-se com as suas experiências subjacentes pode ser um passo crucial na construção de resiliência emocional. Isto é, identificar atividades que provocam emoções específicas e expor-se gradualmente a essas experiências pode fazer parte do processo de construção de resiliência emocional e de desenvolvimento de estratégias de enfrentamento mais eficazes.

 

Entender para viver melhor

Concluindo, nossas emoções servem como um aspecto fundamental da nossa personalidade, moldando nossas percepções, ações e bem-estar geral. Compreender o modelo dos três componentes das emoções é importante porque vai nos ajudar a implementar estratégias eficazes para gerir e regular essas emoções, nos tornando mais resilientes ao estresse. O nosso primeiro passo vai ser entender melhor os mecanismos que amplificam tão intensamente as emoções negativas: a reatividade aversiva e a evitação emocional. São esses os temas das minhas próximas colunas aqui na Isto é Bem-estar! Até lá!

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.