A atividade física na infância é imprescindível, pois auxilia os adolescentes e crianças a desenvolver as suas competências de regulação emocional e comportamental, que desempenham um papel crucial no seu desempenho acadêmico.

E os benefícios não param por aí, pois a atividade física regular melhora a aptidão cardiorrespiratória, constrói ossos e músculos fortes, controla o peso, reduz o risco de desenvolver condições de saúde como doenças cardíacas, câncer, diabetes tipo 2, pressão alta, osteoporose, obesidade dentre outros problemas.

Além disso, a atividade física também é benéfica para a saúde mental das crianças, pois permite-lhes ter uma melhor visão da vida, aumentando a confiança, controlando a ansiedade, a depressão e aumentando a autoestima, bem como as capacidades cognitivas, através da liberação de endorfinas.

 

A urgência de se movimentar: a importância da atividade física e do movimento nas escolas 

Uma pesquisa longitudinal do Reino Unido analisou 4.043 crianças, sendo que pais e professores preencheram questionários para medir os componentes emocionais e comportamentais das habilidades de autorregulação das crianças aos 7, 11 e 14 anos. A atividade física foi medida por fatores que incluíam intensidade, duração e prazer.

Para as crianças de 7 anos, a atividade física previu positivamente as capacidades de regulação emocional, resultando num maior desempenho acadêmico ao longo do início do ensino primário. 

Para crianças de 11 anos, a atividade física estava ligada à regulação comportamental e afetou positivamente o desempenho acadêmico. 

Dessa forma, a atividade física está ligada à regulação emocional na primeira infância e à regulação comportamental na segunda infância. Esta relação prevê o desempenho acadêmico, sugerindo que a atividade física precoce e sustentada é um elemento importante no desenvolvimento e na escolaridade das crianças.

 

  • As crianças envolvidas em esportes aprendem gerenciamento de tempo, habilidades de comunicação e recebem feedback dos treinadores.

 

  • A atividade física permite que as crianças expressem emoções através do movimento de maneira produtiva.

 

  • Os esportes organizados fornecem estrutura para as crianças, ensinam o trabalho em equipe e permitem que as crianças se sintam pertencentes.

 

  • Melhorar a aptidão física, treinar ou competir traz consigo desafios emocionais que as crianças aprendem a superar.

 

  • As endorfinas naturais são liberadas durante o exercício, causando uma sensação de bem-estar.

 

Todas essas habilidades ajudam na sala de aula e melhoram o desenvolvimento do cérebro. Por outro lado, a incapacidade de regular as emoções pode dificultar a aprendizagem, levar a comportamentos perturbadores e pode impactar negativamente a sua vida. Os esportes coletivos oferecem às crianças a vantagem de horários consistentes e atividade física, brincadeiras com colegas e promoção de habilidades sociais. No entanto, todos os tipos de atividade física são benéficos. Geralmente, quando as crianças se sentem cada vez melhor consigo mesmas, têm mais facilidade em regular as suas emoções.

Lembrando que, como falamos no Podcast com o Prof. Nelson Leme, é necessário incluir movimento na rotina da escola e a Educação Física deve estar em todas as disciplinas.

 

Atividade física como aliada para a saúde mental de crianças e adolescentes

Um estudo mostrou que a atividade física moderada a vigorosa aos 6 e 8 anos está associada à redução de sintomas de depressão. Os pesquisadores acreditam que o exercício aeróbico atua de diferentes maneiras que podem ajudar a melhorar o humor e o comportamento de crianças e adultos. 

Em primeiro lugar, parece mudar para onde o cérebro direciona os seus recursos, de áreas do cérebro que estão envolvidas em preocupações, por exemplo, e para áreas que estão mais envolvidas em coordenação e concentração. Em segundo lugar, o exercício aeróbico pode alterar a química cerebral e, especificamente, os níveis de certos neurotransmissores que podem ajudar a melhorar a auto regulação de um indivíduo. Quando o humor e a autorregulação – a capacidade de controlar o comportamento – melhoram, as crianças podem funcionar melhor na sala de aula.

Um outro estudo concentrou-se na atividade física, comportamento sedentário e sintomas de depressão maior na meia-infância. Os resultados mostraram que a atividade física, e particularmente a atividade física moderada a vigorosa, tem um efeito positivo na redução de futuros sintomas depressivos na meia-infância. Além disso, o aumento da atividade física pode servir como método complementar no tratamento da depressão infantil.

A atividade física traz uma série de benefícios à saúde, e este estudo indica que o aumento da atividade física moderada e vigorosa das crianças pode prevenir sintomas depressivos posteriores. Assim, o aumento da atividade física pode servir como um componente adjunto aos tratamentos farmacológicos ou psicológicos.

Como usar a tecnologia para combater o sedentarismo infantil nas escolas do Brasil

Um estudo mostrou que o ciberciclismo (andar de bicicleta ergométrica enquanto observa um cenário de realidade virtual) melhora a concentração em sala de aula para crianças com distúrbios comportamentais, pois elas demonstram baixa participação em exercícios aeróbicos e o ciclismo cibernético é fundamental para envolver essas crianças.  

Muitas dessas crianças apresentam distúrbios sensoriais, ansiedade social e atrasos no desenvolvimento de habilidades motoras, por isso é difícil tornar os programas tradicionais de esportes e exercícios atraentes para elas.

O ciberciclismo atrai esse público, porque as crianças podem praticar com sucesso no seu nível de habilidade atual e acham as atividades de realidade virtual divertidas. 

A pesquisa mostrou que o exercício melhorou o humor e o comportamento das crianças e reduz os riscos de doenças crônicas.

Alunos com diagnóstico de autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade ou transtornos de humor foram designados aleatoriamente para usar as bicicletas duas vezes por semana durante aulas de educação física de 30 a 40 minutos.

Os pesquisadores descobriram que o programa foi bem-sucedido, pois as crianças aumentaram gradualmente o tempo e a intensidade de pedalada ao longo de sete semanas. No geral, as crianças do grupo de intervenção, com idades entre 7 e 16 anos, apresentaram até 51% menos comportamentos perturbadores do que durante o período de controle, com o efeito particularmente forte nos dias em que participaram das aulas de ciberciclismo. 

 

Confira algumas dicas do Conselho Regional de Educação Física de São Paulo (CREF4) de brincadeiras para crianças no dia de hoje:

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*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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OPAS. Novo estudo liderado pela OMS aponta que a maioria dos adolescentes não pratica atividade física suficiente. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/22-11-2019-novo-estudo-liderado-pela-oms-aponta-que-maioria-dos-adolescentes-nao-pratica
Zahl T, Steinsbekk S, Wichstrøm L. Physical Activity, Sedentary Behavior, and Symptoms of Major Depression in Middle Childhood. Pediatrics. 2017 Feb;139(2):e20161711. doi: 10.1542/peds.2016-1711. Epub 2017 Jan 9. PMID: 28069664.
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Vasilopoulos F, Ellefson MR (2021) Investigation of the associations between physical activity, self-regulation and educational outcomes in childhood. PLOS ONE 16(5): e0250984. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0250984