No último artigo trouxe muitas — mas nunca suficientes — informações sobre como lidar com a sexualidade infantil. 

Mas e a sexualidade na adolescência? Mais fácil ou mais difícil? Será que os adolescentes já entendem muitas coisas? 

O amadurecimento sexual vem do entendimento mais profundo do “dar e receber afeto”, com equilíbrio emocional e consciência de seus atos —sexuais ou não. Não sei para vocês, mas sempre me pareceu muito mais difícil lidar com adolescentes do que com as crianças. 

Além disso, nessa fase há o que chamamos no meio médico de “desenvolvimento de caracteres sexuais secundários”, ou seja, desde o estirão de crescimento até a formação das mamas, evolução dos pelos pubianos, desenvolvimento do pênis e testículos, primeira menstruação, entre outros. 

Vale ressaltar aqui que a velha sabedoria popular está correta: o desenvolvimento das meninas ocorre bem antes do desenvolvimento dos meninos. Para as meninas, o início da puberdade se dá em torno dos 9 a 10 anos e finaliza entre 14 e 15 anos. Já para os meninos, a idade do começo das transformações está entre 12 e 13 anos, finalizando aos 16 e 17 anos. 

 

Jovens: quem eu sou sexualmente? 

A pergunta feita por milhões nesta fase! Os jovens, ao pensarem em ingressar na vida sexual, não pensam apenas na busca pelo prazer, mas ficam atentos aos modismos, cedem às pressões dos amigos, ainda têm a incapacidade de dizer não, são influenciados pelas redes sociais, em além de ceder facilmente em paixão e buscam a autoafirmação através de suas ações.

 

As fases da sexualidade na adolescência

Algumas vivências são esperadas para cada fase da puberdade. Entre os 10 e 13 anos há, de fato, a perda do corpo infantil e o início do autoerotismo, guiado por impulsos sexuais, fantasias e masturbação. É aqui a primeira “quebra com a família”, com advento da primeira paixão, dos primeiros flertes e dos primeiros beijos. 

Entre os 14 e 16 anos já começa a existir a busca pela concretização do ato sexual através de manifestações sexuais voltadas ao outro, não somente a si mesmo. 

E, por fim, entre os 17 e 19 anos, após o autoconhecimento e a entrega para outra pessoa acontecerem, chega a hora do adolescente enfrentar as responsabilidades pelos seus atos, entendendo os vínculos de intimidade e afetividade criados, além de estabelecer valores pessoais, identidade sexual e busca por relações estáveis. 

 

Primeira relação sexual: a importância da conversa com os adolescentes

Eu costumo dizer que a primeira relação sexual vem com muitos pesos, os quais, ao serem literalmente colocados em uma balança, causam um desequilíbrio gigantesco entre o fazer e o não fazer. Enquanto de um lado temos o desejo, o tesão e o prazer, do outro, temos dúvidas, ansiedade, culpa e medo. 

A pressão é a chave para a insegurança. “Dói o rompimento do hímen?”, “E se eu não conseguir manter uma ereção?”, “Será que meu parceiro vai gostar?”, “E se eu engravidar?”, “Como peço para ele usar camisinha?” “Será que ele vai achar que eu tenho alguma infecção sexualmente transmissível?”

O lado negativo sempre vai se sobressair se o adolescente não puder conversar com sua rede de apoio: seus pais, outros familiares ou seu médico —aqui, trago para vocês que, além do ginecologista, o jovem pode buscar o pediatra especialista em hebiatria: o hebiatra é o médico pediatra especialista em adolescentes, apto para lidar com essas questões e muitas outras desse universo. 

Vale ressaltar que a consulta pode ser realizada com e sem a presença de um responsável legal, ou seja, em duas etapas. Há muitos e muitos assuntos que o adolescente pode desejar não compartilhar com seus pais, mas tem dúvidas e gostaria de conversar com um profissional de saúde. Nesses casos, o sigilo médico é respeitado, desde que não tenha prejuízo à saúde do menor de idade. Conversas sobre sexo, métodos contraceptivos, hábitos, mudanças no corpo, entre outros, são super bem-vindos nos consultórios ginecológicos e pediátricos. O sigilo médico só é quebrado em casos de gravidez, uso de drogas ilícitas e/ou se o adolescente adquiriu o vírus da imunodeficiência humana (HIV). 

 

Educação sexual para os adolescentes 

É importante conversar e ensinar o jovem muito além do dia a dia. É importante ensinar que ele está protegido, tendo seu direito de viver e expressar livremente sua sexualidade sem violência, discriminações e imposições, com respeito pleno pelo corpo do parceiro. É importante verbalizar que ele deve viver a sexualidade sem medo, sem vergonha, sem culpa e sem falsas crenças, bem como expressar livremente sua orientação sexual, seja ela heterossexual, homossexual ou bissexual. É de direito do adolescente ter informação a educação sexual e reprodutiva para garantir um sexo seguro, prevenindo uma gravidez indesejada e/ou a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. 

E aqui, com muito destaque, é a hora de capacitar os jovens à identificar e diferenciar abuso sexual, assédio sexual e estupro. O abuso é a violência cujo agressor tem intenção de estimular sexualmente a vítima ou utilizá-la para satisfação sexual. O assédio é sinônimo de constrangimento, ou seja, propostas indecorosas, falas obscenas ou pressão para ter relação sexual que a outra parte não deseja. Por fim, o estupro é a prática não consentida de sexo, imposta por violência ou grave ameaça.

 

E quanto às tecnologias, os aplicativos e a influência deles no desenvolvimento da sexualidade do adolescente?

Aqui é tanto assunto que vamos deixar uma matéria específica para esse tema. Por hora, deixo uma reflexão: qual o tamanho do prejuízo na auto imagem que filtros, cirurgias plásticas e procedimentos estéticos, tão difundidos hoje em dia nas mídias sociais, terão no presente e no futuro da geração Z? Os transtornos dismórficos, corporais, a anorexia e a bulimia já são uma realidade. 

Outra realidade agravada pela internet é o bullying —agora, cyberbullying ou exploração sexual online. O cyberbullying vem dos atos de filmar relações sexuais e/ou compartilhar nudes sem o consentimento do autor. 

É muito “pano pra manga”, aguardem a próxima matéria! 

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.