Quem nunca viu ou soube de alguém que pratica alguma atividade física em situação extrema como correr na chuva, nadar no frio, se locomover  a grandes distâncias ou acordar muito cedo e pensou: “nossa, para que isso?”. Pois bem, os motivos que levam uma pessoa a praticar qualquer atividade física regularmente são muitos, como estética, saúde ou pura disciplina mesmo, mas todos têm aquela mesma sensação ao final, um misto de prazer com satisfação de dever cumprido. 

Recentemente me surpreendi comigo mesmo, pela enorme mudança de humor ocorrida em um intervalo de apenas uma hora de um treino de musculação. Mesmo com o hábito de treinar em média 5 dias por semana há alguns anos, tem dias que simplesmente as coisas acontecem pela força do hábito (e não do ódio), também conhecido como disciplina, e chego com aquele mau humor matinal. Mas mesmo nos dias de pior humor, aqueles que nem a gente se aguenta, sempre saio mais leve do que cheguei, muitas vezes me pego sorrindo sem motivo no caminho de volta. E por que isso acontece?

O exercício físico, em diferentes intensidades, pode desencadear a produção de alguns hormônios que agem na sensação de dor e bem-estar, consequentemente afetando nosso humor.

  • Endorfina. É considerada um opioide natural, produzida por uma glândula na base do cérebro que tem efeito similar à morfina, diminuindo ansiedade, a dor e gerando uma sensação de bem-estar.
  • Adrenalina e noradrenalina. São produzidas na glândula supra-renal e são as principais responsáveis pelo aumento da frequência cardíaca, que ocorre durante o exercício, levando também a uma sensação de euforia.
  • Serotonina. É produzida no cérebro e é conhecida por modular a dor, o humor, o sono e as emoções. Diversos estudos sugerem a atividade física como tratamento para doenças que causam dor crônica, como a fibromialgia.
  • Dopamina. É um neurotransmissor também conhecido como um dos hormônios da felicidade, gerando sensação de bem-estar. O exercício físico aumenta sua produção e também a sensibilidade dos receptores onde ela age. Por esse motivo, ela pode ser indicada por diversos autores como prevenção e complemento no tratamento de transtornos neuropsiquiátricos como a doença de Parkinson.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), desde o período pré-pandemia até o primeiro trimestre de 2022, a quantidade de pessoas com depressão no Brasil aumentou em cerca de 40%, chegando a atingir aproximadamente 5,8% da população. Quando falamos em ansiedade, o cenário fica ainda pior, atingindo algo em torno de 10% da população, o que coloca o Brasil como primeiro no ranking nesse quesito, segundo a OMS. Os principais motivos seriam o alto desemprego, problemas econômicos, preocupação com segurança pessoal e baixa qualidade de vida.

Se o apelo pela saúde cardiovascular, perda de peso ou mesmo estética não são suficientes para gerar motivação para iniciar uma atividade física, que seja então pela saúde mental ou apenas por uma vida mais leve e feliz, em uma rotina, muitas vezes caótica, em que vivemos.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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Mikkelsen K, Stojanovska L, Polenakovic M, Bosevski M, Apostolopoulos V. Exercise and mental health. Maturitas. 2017 Dec;106:48-56. 
Feng YS, Yang SD, Tan ZX, Wang MM, Xing Y, Dong F, Zhang F. The benefits and mechanisms of exercise training for Parkinson's disease. Life Sci. 2020 Mar 15;245:117345. 
OMS. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240049338