O chocolate é sem dúvida, um dos alimentos mais amados do mundo e a sua história é antiga. Começou com os Maias, a primeira civilização a cultivar o cacau. Para os Maias, o chocolate era uma bebida preparada com água quente, podendo ser aromatizada com especiarias, como canela e pimenta. Esta mistura recebeu o nome de “Comida dos Deuses” e foi apresentada na mesa do imperador Moctezuma II pelos astecas. 

As características e ingredientes deste alimento são amplamente estudados, assim como a sua relação com o sistema de prazer, conhecido como hedônico, já que ele consegue ativá-lo e produzir sensações de bem-estar quando consumido. O chocolate é um alimento que cultiva opiniões contraditórias, pois muitas pessoas acreditam que ele pode ser prejudicial à saúde, enquanto outras o apreciam, consomem sem culpa e conhecem o seu potencial para a saúde.  O grande ponto de decisão aqui é a frequência do consumo, bem como a quantidade e os ingredientes de cada tipo de chocolate. Portanto, é importante que você conheça a composição dos diferentes tipos que encontrará no mercado: 

ESCURO (AMARGO): geralmente não é o preferido, porém é o que tem mais benefícios à saúde já que contém cacau (até 80% do peso total) e menor quantidade de manteiga de cacau – quanto mais amargo, menor a quantidade de manteiga de cacau e açúcar adicionados.  A sua qualidade / valor nutricional dependerá da porcentagem de cacau.

AO LEITE: contém manteiga de cacau, açúcar, leite em pó, lecitina e cacau (este último não menos de 20 a 25%). Com uma aparência brilhante, ele tem sabor doce e maior teor de gorduras saturadas, principalmente pela maior proporção de manteiga de cacau.

BRANCO: contém manteiga de cacau (e maior teor de gordura saturada), leite e açúcar.

 

O que é a manteiga de cacau? 

É uma mistura de gorduras, predominantemente saturadas, adicionada à mistura que irá compor o chocolate. A sua proporção é diferente nos diferentes tipos de chocolates mencionados acima.

Atenção ao chocolate com maior quantidade de gordura saturada, pois é justamente este tipo de gordura que, dependendo da quantidade consumida, se relacionam com o aumento no risco para doenças cardiovasculares, inflamação e risco para desenvolvimento de câncer, dentre os vários tipos, temos o de mama. 

Agora, quando o chocolate tem maior quantidade de cacau (amargo, meio amargo), ele apresenta maiores benefícios à saúde, pela maior concentração de compostos antioxidantes e anti-inflamatórios, como a classe de polifenóis e flavonoides; por isto, nestes casos este alimento tem a capacidade de aumentar a longevidade junto ao apetite sexual e a fertilidade. Isto ocorre porque estes compostos ativos atuam na proteção de eventos vasculares como trombose e acidente vascular cerebral pela melhora na circulação sanguínea; podem atuar preventivamente no ganho de peso pela melhora na inflamação e resistência à insulina associadas, sem contar que turbinam a ação das mitocôndrias que são componentes celulares essenciais para a respiração celular e também para o controle da produção excessiva de radicais livres, condição esta que define o que chamamos de estresse oxidativo. 

 

Vamos ponderar?

Bem, não é o consumo de 1 pedaço de chocolate por dia que fará de você uma pessoa doente, mas sim um conjunto de escolhas e atitudes que envolvem a sua alimentação como um todo. A prática regular ou não de atividade física, o seu peso corporal e a gordura corporal, a sua saúde mental e a qualidade de vida como um todo. Mas se pudermos fazer escolhas inteligentes e que nos beneficiem, por que não levar esta informação em consideração?

Outro fator que justifica a leitura do rótulo é porque, na tentativa de baratear o produto, algumas empresas têm substituído de forma total ou parcial a manteiga de cacau por similares (coco, algodão, palma e soja). A legislação brasileira, como a maioria dos países, proíbe a adição destas gorduras ao chocolate para substituir total ou parcialmente a manteiga de cacau, logo ao identificarmos a sua presença, não consuma este chocolate, já que geralmente são produtos derivados da hidrogenação e/ou fracionamento de óleos vegetais, ingredientes muito relacionados ao aumento do risco cardiovascular – esta afirmação não significa que o cacau não tenha gordura, mas que possui uma gordura de maior qualidade composta por ácido graxo do tipo oléico encontrado no azeite de oliva.

Ao compararmos as características nutricionais do chocolate ao leite e o escuro, podemos destacar alguns aspectos interessantes a serem comentados:

Chocolate ao leite comparado com chocolate escuro: quantidade superior de colesterol, 10 vezes mais sódio na formulação e 4 vezes mais cálcio pela adição do leite.

Chocolate escuro comparado com chocolate ao leite: maior quantidade de fibra alimentar, maior quantidade de teobromina (8 vezes superior) e 2 vezes mais flavonóides.

Observando estas informações é possível compreender que o chocolate escuro com 70% de cacau é uma fonte significativamente melhor de flavonóides do que o chocolate ao leite. A maior presença de teobromina também é um grande diferencial, já que essa é um componente orgânico com função vasodilatadora e, portanto, com benefícios cardiovasculares, como te contei anteriormente. 

De forma conclusiva sabemos que a dieta é um dos principais fatores de estilo de vida que podem influenciar significativamente a incidência e progressão de doenças crônicas como doenças cardiovasculares, diabetes e câncer. A dieta equilibrada, consciente e não restritiva, com a presença do consumo racional do chocolate 70% pode trazer benefícios, sem contar o fato de ser um alimento gostoso e agradável. Vale ressaltar que encontramos os flavonóides também em uvas, maçã, brócolis, espinafre, couve, cebola, nozes entre outros. 

O conteúdo de flavonoide presente no chocolate pode variar entre as marcas devido às diferenças no processo de produção. Logo escolha sempre aqueles com mais cacau e menos açúcar, massa de cacau ou os seus substitutos. Além disso, não há uma regulamentação específica que rege a rotulagem de chocolate escuro ou de seu teor de polifenóis e flavonoides. 

 

Mas quanto devo comer? 

As pesquisas recomendam a quantidade entre 40 a 70 gramas de chocolate com > 70% de cacau por dia, o que equivale a quantidade de 2 bombons e aproximadamente 230 calorias. Logo, a caloria é considerável e, assim, precisa ser bem programada e contextualizada, sempre em sintonia com atitudes positivas com relação às suas demais escolhas alimentares e sua rotina diária.

Enfim, pode comer chocolate sem culpa e com juízo.

Referências Bibliográficas

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