Recentemente o Conselho Federal de Medicina (CFM), em resposta à uma carta¹ publicada em conjunto por algumas sociedades médicas, divulgou uma resolução² na qual proíbe o uso de hormônios esteroides anabolizantes para fins estéticos e de melhora de desempenho esportivo –e isso deu o que falar nas redes sociais, conversas de academias e grupos de médicos.
As informações muitas vezes equivocadas na internet, a busca pelo resultado estético rápido e a banalização dos possíveis efeitos colaterais, aliados à facilidade em se ter acesso a esse tipo de droga, aumentaram muito seu consumo, que vem associado não só a colaterais, mas também consequências para a saúde. Em minha prática clínica, se tornou muito comum e é cada vez mais frequente a procura por ajuda para lidar com esses efeitos.
Mas afinal, quais seriam os reais riscos e consequências do uso indiscriminado de esteroides androgênicos anabolizantes?
Aumento do tamanho do coração. Assim como outros músculos do nosso corpo, o músculo da parede do coração também sofre a influência dos hormônios anabolizantes, o que leva a um aumento do tamanho do coração como um todo. Porém, esse aumento ocorre de forma desordenada, com um aumento na proporção de fibras que não são de contração, o que leva a uma diminuição da capacidade de bombear o sangue. Essas alterações cardíacas, ao longo do tempo, podem até levar à morte súbita, por infarto agudo do miocárdio ou arritmias, por exemplo.
Aumento da quantidade de glóbulos vermelhos, as hemácias. Causado pelo uso crônico e indiscriminado de esteroides anabolizantes, leva a um aumento do risco de formação de trombos, que são coágulos dentro dos vasos sanguíneos. Esses coágulos podem causar o entupimento de alguma veia importante, com consequências graves e, a depender do local e extensão do acometimento, até a morte.
Alterações de humor, doenças psiquiátricas e neurológica. O uso de hormônios anabolizantes também é capaz de alterar o humor de seus usuários, deixando-os mais agressivos. Algumas doenças psiquiátricas como a ansiedade, já tão frequente em nossa sociedade, principalmente após a pandemia da Covid-19, pode ser exacerbada ou desencadeada em alguém com alguma predisposição. Estudos recentes compararam levantadores de peso que faziam uso crônico de esteroides anabolizantes com atletas da mesma modalidade que não usavam, e foi demonstrada menor capacidade cerebral nos usuários de longa data, além do maior risco de demência com o passar dos anos.
Alterações metabólicas. Como aumento da resistência à insulina, que seria equivalente a um estado pré-diabético, piora do colesterol, com aumento do colesterol ruim (LDL), diminuição do bom (HDL) e elevação da pressão arterial. Também seriam responsáveis pelo aumento do risco de doenças cardiovasculares.
Alterações hormonais, sexuais e na fertilidade. São frequentes entre os usuários de hormônios anabolizantes, já que seu uso diminui ou suspende totalmente a produção natural de testosterona e, em alguns casos, também de espermatozoides. Por vezes, é difícil reversão.
Muitos dos estudos usados para determinar os efeitos prejudiciais à saúde do uso de esteroides anabolizantes foram realizados em animais ou através de autópsia de indivíduos que abusavam do uso e faleceram por causas provavelmente ligadas a isso, o que torna difícil determinar qual seria a forma ou doses seguras para o uso em indivíduos saudáveis para fins estéticos ou de melhora da performance esportiva.
E a discussão vai muito além da simples proibição da prescrição por parte dos médicos, uma vez que a grande maioria dos usuários deste tipo de droga o faz totalmente independentemente do auxílio de qualquer profissional da saúde, de forma descontrolada e abusiva. A conscientização através da educação talvez seja um caminho com melhores resultados, focando não só nos usuários em potencial, mas também nos profissionais de saúde que lidam com esse público, desmistificando as indicações adequadas ao uso e orientando sobre seus riscos.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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