A carnitina (também conhecida como L-carnitina) é uma substância que promete “queimar” gordura e tem sido popular entre quem quer perder peso, mas também entre desportistas e atletas. Quando olhamos para as reivindicações mais comuns da carnitina, encontramos relatos que vão desde a melhoria do metabolismo da gordura até o aumento da massa muscular. Geralmente, ela pode estar presente em suplementos pré-treino como “queimador de gordura”. Mas é importante analisar a literatura científica para verificar as reais funções no nosso organismo.

Para começar, é importante saber que este suplemento é uma substância produzida no fígado e nos rins, podendo também ser derivada de carnes vermelhas e, em menor proporção, de carnes brancas e laticínios. A produção no organismo depende principalmente da disponibilidade de dois aminoácidos: metionina e lisina. Mesmo quando as fontes alimentares de carnitina são insuficientes, o corpo humano produz metionina e lisina suficientes para manter as reservas funcionais dela. 

 E de fato, a carnitina presente dentro do nosso corpo desempenha um papel importante no metabolismo da gordura. No estado de jejum e durante exercícios de intensidade baixa a moderada, a gordura é uma fonte importante de energia para ser utilizada pela maioria dos tecidos, incluindo o músculo esquelético. Uma etapa crítica neste processo de queima de gordura é o transporte de ácidos graxos para as mitocôndrias e, nesse ambiente, a carnitina tem papel fundamental. Mas reparem, essa carnitina é a mesma já produzida pelo nosso próprio organismo, já a carnitina suplementada não é tão facilmente inserida nas nossas células. 

 A crença de que ela é um agente de emagrecimento baseia-se na suposição de que a ingestão oral regular de carnitina aumenta a concentração muscular. Outra suposição é que se a concentração de carnitina no músculo aumentar, a oxidação da gordura também aumenta, levando assim a uma perda gradual das reservas de gordura corporal. 

Assim, vários estudos, cuidadosamente conduzidos, no entanto, mostraram que a ingestão oral de carnitina (ingestão diária por até 3 meses) não altera a concentração de carnitina muscular. Mesmo a infusão injetável de carnitina durante 5 horas não aumentou a concentração de carnitina muscular. Parece que a razão pela qual a carnitina não foi capaz de aumentar a concentração de carnitina muscular nestes estudos foi por 2 razões: baixa biodisponibilidade (apenas 20% de uma dose de 2-6 g é absorvida) e transporte limitado de carnitina para o músculo. Portanto, quaisquer alegações relativas aos efeitos da carnitina na oxidação da gordura ou na perda de peso são, obviamente, infundadas se a suplementação de carnitina não for capaz de aumentar a concentração de carnitina dentro do músculo.

 

Mas existe uma solução para a má absorção de carnitina?

Vários estudos observaram que é possível aumentar a concentração de carnitina muscular se a carnitina for administrada quando as concentrações plasmáticas de insulina estão elevadas. Assim, alguns demonstraram que a resposta da insulina resultante de uma alimentação rica em carboidratos pode ser suficiente para aumentar a captação de carnitina pelo músculo. Mas é importante observar que é questionável se esta estratégia é prática ou significativa, especialmente numa situação de necessidade de emagrecimento. Nesse caso, para que esse efeito ocorresse, foram utilizadas quatro doses de 94 g de carboidratos (cerca de 1.434 kcal), o que tem maior probabilidade de resultar em ganho de peso do que em perda de peso. Além disso, essas altas ingestões de carboidratos e concentrações de insulina irão, na verdade, suprimir a oxidação da gordura por outras vias.

Embora esta tenha uma função importante no músculo e seja atrativo especular que possa aumentar a queima de gordura, tem-se revelado muito difícil aumentar as concentrações de carnitina no músculo. Mesmo doses elevadas não resultaram em melhores concentrações de carnitina no músculo e em nenhuma alteração na função. Portanto, até o momento, é uma estratégia questionável.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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