Estamos chegando ao final de março e pouco se tem falado sobre a campanha nacional de sensibilização pública sobre os riscos, diagnósticos e tratamentos do câncer do intestino, colorretal e ânus. Surgida nos Estados Unidos, difundindo-se para outros países, chegando ao Brasil em meados dos anos 2020, a campanha conta com a união de entidades médicas ligadas ao aparelho digestivo, com o objetivo comum de aumentar a conscientização da população quanto ao câncer colorretal, inspirando-se nas campanhas dos outros meses, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul. 

O câncer colorretal é mais comum do que o imaginado! Ele ocupa a terceira posição entre os tipos de tumores mais frequentes no Brasil, desconsiderando o de pele não melanoma. Segundo dados do Inca, 45.630 novos casos da doença no Brasil são estimados para cada ano nesse novo triênio 2023 a 2025. 

Segundo o Dr. Lucas Nacif, especialista em cirurgia geral do aparelho digestivo, “os casos começam a se intensificar principalmente  em pacientes com idades acima de 50 anos, que tenham uma dieta com alto teor de gordura e baixo teor de fibras, obesidade, sedentarismo e/ou tabagismo. Pessoas com diagnóstico ou história de câncer na família ou no intestino também são fatores de risco importantes. E cada vez mais vemos mais jovens com diagnóstico de câncer no intestino no consultório”.  

 

Saiba os sintomas e como identificar

De forma mais direta, inclui perda de peso, sem nenhuma dieta específica, alterações no hábito intestinal, como diarréia ou prisão de ventre, sangue nas fezes, sensação de gases e cólicas intestinais, vômitos frequentes e náuseas intensas, além de dores anais. e sensação de intestino cheio, mesmo após a evacuação – são sintomas que exigem avaliação médica.

Nacif ainda explica que “a identificação do câncer colorretal ocorre por meio do exame físico realizado pelo médico, além da anamnese, detecção de sangue oculto nas fezes, toque retal, retoscopia, endoscopia, colonoscopia e, em alguns casos, por exames de imagem”.

 

Quais fatores podem desencadear o câncer de intestino? 

O especialista conta que “a história familiar de câncer de intestino e cólon, o histórico pessoal de câncer prévio no intestino ou a presença de pólipos nas colonoscopias anteriores, e o histórico de doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn e retocolite ulcerativa”, são os principais fatores a serem considerados em relação ao câncer de intestino. 

Ele enfatiza: “Além disso, a presença de mutações genéticas, com cerca de 10% das pessoas que desenvolvem uma mutação genética específica apresentando um risco aumentado de câncer, é um fator a ser considerado. Em relação à etnia e doenças crônicas, sabe-se que pessoas negras têm uma probabilidade maior de desenvolver câncer de cólon, assim como os portadores de diabetes tipo 2”. 

Tabagismo, o consumo de álcool, o sedentarismo, a obesidade, e uma dieta rica em carne vermelha e alimentos ultraprocessados, também estão associados ao aumento do risco de câncer colorretal.

 

Quais são as prevenções e formas de tratamento?

Para o doutor “adotar um estilo de vida saudável, incluindo uma dieta rica em alimentos naturais com fibras, a prática regular de atividades físicas e a redução do consumo de carne vermelha e embutidos, assim como a diminuição do uso de álcool, pode contribuir significativamente para a redução da formação de pólipos adenomatosos no intestino, os quais são os principais precursores do câncer de intestino”.

Em relação ao diagnóstico, “a colonoscopia é um método eficaz para detectar esses pólipos precocemente, antes que se tornem cancerosos, bem como para identificar a presença de câncer em estágios iniciais”, explica Nacif. 

O tratamento do câncer colorretal vai desde a adoção de hábitos alimentares saudáveis até a realização regular de colonoscopias, permitindo a remoção dos pólipos em estágio inicial. 

Já outras formas de tratamento incluem cirurgia para remoção do tumor, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. De acordo com o especialista, esses tratamentos variam conforme “o tamanho, localização e extensão da doença”.

Quando perguntado se mesmo que o câncer seja descoberto em estágio mais avançado, ainda é possível a recuperação e quais são as suas recomendações nestes casos, o doutor afirma: 

“Sim, o câncer em estágio mais avançado hoje em dia tem chance de recuperação por meio de tratamento. Quando há presença de metástases ou disseminação da doença, é indicada quimioterapia, muitas vezes em combinação com drogas de alvo molecular, e em alguns casos, radioterapia externa e cirurgia para remoção do tumor também são recomendadas. O tratamento nesses casos é multidisciplinar, envolvendo várias equipes, como oncologistas clínicos, cirurgiões oncológicos, radioterapeutas, psicólogos e nutricionistas. Portanto, é um tratamento abrangente que requer a colaboração de diferentes especialidades para proporcionar os melhores resultados possíveis”.

 

Como a alimentação pode ajudar e influenciar na prevenção e tratamento dessa doença? 

“A alimentação pode influenciar na prevenção e tratamento dessa doença de várias maneiras. O consumo excessivo de carnes vermelhas e processadas, especialmente quando expostas ao calor intenso, como no churrasco, está entre os principais fatores de risco. Além disso, uma dieta pobre em fibras, sem frutas, legumes e verduras, juntamente com hábitos de vida como tabagismo, sedentarismo, obesidade ou diabetes, contribuem para o aumento desse risco”, retoma o doutor. 

 

E quanto aos exercícios físicos? 

Para o especialista, “a prática regular de exercícios físicos colabora no combater a obesidade, um importante fator de risco para o câncer colorretal”. Além disso, diversos benefícios estão associados à prática de atividades físicas, então procure um profissional da educação física e coloque-os já na sua rotina. 

 

Qual a relação da microbiota com esse câncer?

“A microbiota intestinal desempenha um papel importante como protetora nesse caso. Porém, quando essa proteção não funciona adequadamente, ocorre uma disbiose da microbiota, o que pode ocasionar vários tipos de doenças, incluindo o câncer colorretal. Isso evidencia um início, um ponto de partida para o processo da carcinogênese, ou seja, a formação de um novo câncer, e também para a progressão das metástases do câncer, principalmente do câncer colorretal”, explica Nacif. 

Sendo assim, para manter-se saudável tanto no Março Azul quanto em qualquer outro mês do ano, mantenha sua alimentação saudável, os exercícios físicos em dia e não deixe de realizar suas consultas médicas e procurar a ajuda de uma profissional da saúde caso apresente os sintomas descritos nesta matéria. 

 

Colaboração: Lucas Nacif, especialista em cirurgia geral do aparelho digestivo, reconhecido por sua expertise em cirurgias hepato bilio pancreática e transplante de fígado. É membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (CBC), do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) e da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). Internacionalmente, é membro da ILTS (International Liver Transplantation Society), TTS (The Transplantation Society) e AHPBA (Americas Hepato-Pancreato-Biliary Association). 

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.