Quando eu ministro aula em pós-graduação, é comum encontrar estudantes tomando bebidas energéticas durante as horas de aula para manterem-se acordados. Essa bebida também está presente em festas e shows e, muitas vezes, é combinada com álcool e consumida em demasia.
As bebidas energéticas estão no mercado desde 1962, quando foram comercializadas pela primeira vez na Tailândia e desde então, se tornaram uma das bebidas mais vendidas no mundo. Um estudo avaliou 16 países e encontrou uma prevalência de consumo de energéticos entre 68% dos adolescentes –10 a 18 anos de idade –e 30% dos adultos. Ainda, 12% foram classificados como “usuários crônicos”, o que estabeleceu uma taxa média de consumo de sete litros por mês, ou seja, por volta de uma latinha por dia.
Os energéticos normalmente são compostos de cafeína, taurina, minerais e vitaminas, com o intuito de aumentar o estado de alerta, foco e energia. Os dois principais compostos presentes nos energéticos são a cafeína e a taurina, e, no Brasil, essas bebidas são regulamentadas pela ANVISA, contendo até 350 mg cafeína por litro e 400 mg de taurina em 100 ml de bebida.
A cafeína tem ação estimulante no sistema nervoso central, promovendo redução da sensação de fadiga, aumento da energia e do estado de alerta, podendo gerar benefícios durante o exercício físico. É fundamental observar que esses efeitos ocorrem por volta de 30 a 60 minutos após o consumo da cafeína, e isso significa que devemos planejar o horário de consumo da cafeína para que seja aproveitada de modo adequado.
Ainda, para a melhoria do rendimento esportivo, a dose recomendada pelo American College of Sports Medicine é de 3 a 6 mg de cafeína por quilo de peso corporal. Assim, um indivíduo saudável de 60 kg poderia consumir entre 180 a 240 mg de cafeína por dia, uma dose que inclusive é superior à uma latinha de bebida energética. Mas outro fator determinante é o tempo de duração da cafeína no nosso corpo, sendo que ao longo de 6 a 8 horas, a ação permanece e pode atrapalhar o sono.
Já a taurina também pode estar relacionada à melhora do desempenho esportivo, assim como contribui para a recuperação da lesão muscular e confere benefícios cognitivos. De fato, encontramos diversos estudos que mostram que as bebidas energéticas podem trazer benefícios, especialmente para praticantes de esporte. No entanto, o alto consumo regular também está envolvido com elevação da pressão arterial e incita problemas como hipertensão, taquicardia, ansiedade e padrões de sono alterados, especialmente em adolescentes, gestantes ou em pessoas que apresentam alteração genética, e assim não metabolizam a cafeína adequadamente.
Além disso, os efeitos da ingestão crônica em doses moderadas e altas de cafeína e taurina em crianças e adolescentes ainda não são conhecidos e, portanto, sem segurança. Já para os adultos saudáveis, o consumo ocasional não representa risco, exceto quando é excessivo ou utilizado por aqueles com alterações cardiovasculares, ou no metabolismo da cafeína. Vale observar que a cafeína pode ser letal em doses de 5 gramas e causar efeitos colaterais importantes, que até podem ser fatais, em doses de 3 gramas.
O fator genético também é fundamental e pode ser observado quando o indivíduo consome cafeína, até mesmo em doses mais baixas. Isso ocorre por conta de um prejuízo na função de uma enzima envolvida com a metabolização e consequente eliminação da cafeína. Apesar dessa alteração ser comprovada apenas por teste genético, é muito comum que o portador da mesma perceba os sintomas clássicos após a ingestão da cafeína, como taquicardia, dor de cabeça, insônia e irritabilidade. E é importante ressaltar que além desses sintomas clínicos, existe prejuízo no desempenho esportivo, anulando os efeitos positivos da cafeína que discutimos previamente.
Em 2020, um estudo científico avaliou efeitos adversos após o consumo de bebidas energéticas. O efeito mais comum foi taquicardia (em 26,2% dos indivíduos), seguido de palpitação cardíaca (20,0%), dor no peito (10,3%) e sintomas gastrointestinais (14,6%).
Embora os eventos adversos tivessem sido relatados, poucos preencheram os critérios para serem considerados graves. Dentre 9816 pessoas avaliadas, apenas 165 (1,7%) precisaram de cuidados médicos, e apesar dessa informação não ter sido avaliada no estudo, acredito que eram pessoas com alterações genéticas na metabolização da cafeína.
Mas há outro fator importante a ser observado: esse estudo demonstra que as bebidas energéticas aumentam as chances de insônia, ansiedade e nervosismo, assim como dor de cabeça, dores musculares e dor abdominal em alguns indivíduos. Talvez você que me lê apresente essas intercorrências ou talvez seja o contrário: não tenha nenhum efeito adverso e até sinta benefícios. Portanto, isso significa que devemos respeitar a individualidade biológica, sendo que as respostas frente ao consumo de algum produto pode variar muito em cada pessoa. Assim, a cautela se faz necessária especialmente em indivíduos sensíveis à cafeína, crianças e adolescentes.
É sempre importante lembrar que quantidades elevadas podem gerar toxicidade em qualquer indivíduo. Como recomendação final e baseando nos dados encontrados nos estudos, é interessante não ultrapassar de 5 a 7 latinhas de bebida energética por semana.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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