A cidade pode não ter praia, mas isso não é impeditivo para a prática do beach tennis, esporte que virou febre em São Paulo. Vem se popularizando nos últimos anos e ganhando centenas de espaços voltados à modalidade, entretanto, pouco se fala das lesões ortopédicas que podem acarretar os praticantes desse esporte. 

 

A febre do beach tennis

Desde o fim da pandemia, o esporte ganhou força, por isso, a Confederação Brasileira de Tênis (CBT) estima que o número de praticantes quase triplicou nos últimos três anos, passando de 400 mil em 2021 para 1,1 milhão em 2023.

 

Novo estudo sobre as lesões ortopédicas do beach tennis

Como qualquer atividade esportiva, as lesões por esforço fazem parte do cotidiano dos praticantes e, diante da popularidade do beach tennis, médicos membros da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM) investigaram o cenário. 

Um estudo publicado neste mês revelou que quase metade dos adeptos sofrem com problemas ortopédicos. Segundo o presidente da SBCM e um dos autores do estudo, Antonio Carlos da Costa, até então, havia apenas um artigo científico realizado na França sobre as lesões ortopédicas na prática do beach tennis.

“Existem diversos estudos sobre as lesões nos praticantes de tênis de campo. No entanto, esses dados não podem ser transpostos para o beach tennis, pois os esportes de quadra e de areia diferem na sua superfície, como também na raquete e na cinemática do esporte”, explica Costa.

Foi realizado um estudo transversal, com aplicação de questionário presencial, respondido por 160 praticantes regulares de beach tennis por pelo menos seis meses, com idade acima de 18 anos. A avaliação ocorreu durante torneios e treinos em clubes das cidades de São Paulo e São Caetano do Sul, entre setembro de 2021 e janeiro de 2022.

A presença de lesões ortopédicas foi relatada por 48,8% dos participantes, sendo a maior prevalência encontrada nos membros inferiores (30%), 25% nos membros superiores e 11,3% na coluna.

“Nos membros superiores, as maiores prevalências de lesões foram as tendinopatias (47,5%). Alguns tipos que podem ocorrer, por exemplo, são a tendinite de De Quervain, inflamação dos tendões na base do polegar, causada por movimentos repetitivos de rotação e preensão da raquete; e a tenossinovite, inflamação da bainha dos tendões, que pode ocorrer em várias áreas das mãos e punhos devido aos movimentos vigorosos de agarrar e manipular a raquete”, explica o presidente da SBCM.

O estudo constatou que o maior número de jogadores com lesões ortopédicas foi encontrado nos praticantes entre 13 e 36 meses (33,8%) e houve maior incidência de lesão em indivíduos que treinavam mais horas por semana.

 

Formato do estudo 

O estudo foi desenvolvido em três fases:

Na primeira parte, houve a coleta dos seguintes dados: idade, sexo, altura, peso, índice de massa corporal (IMC) e lado dominante. 

Na segunda, foi investigado o tempo de prática (em meses, dias por semana e horas por semana), a participação em competições, a categoria, a experiência com outros esportes e uso de backhand com as duas mãos. A classificação por categorias foi autorrelatada e é dividida de acordo com o desempenho em competições. São elas: “Pro” (profissional), seguida das categorias A, B, C e iniciante. 

A última fase foi a coleta de dados relacionados à presença de lesões, e em qual segmento elas se apresentavam: coluna, membros superiores e membros inferiores. 

Com relação à análise das lesões, foram desconsiderados os problemas ortopédicos prévios que pudessem interferir na prática de beach tennis. Caso um entrevistado relatasse lesão prévia assintomática, ela não foi considerada na análise dos dados do presente estudo. 

Para obter a incidência de lesões a cada mil horas, foi determinado o tempo de prática do esporte de cada participante, multiplicando as variáveis “tempo de treino (horas/ semana)” e “tempo de prática (meses)”, considerando a estimativa de quatro semanas a cada mês. 

 

Resultados do estudo

Em relação às lesões na coluna, foram encontradas afecções do disco vertebral em 55,6% dos praticantes. Já nos membros superiores, as maiores prevalências de lesões foram as tendinopatias (47,5%) e epicondilite (32,5%). Nos membros inferiores, as lesões de joelho foram as mais comuns, com lesão do menisco (31,3%), seguida de dor patelofemoral (25%), e lesão ligamentar (14,6%). 

Correlacionando a incidência de lesões com idade, peso, altura e IMC, obteve-se relevância estatística significante apenas entre a média de idade maior nos indivíduos com lesão nos membros inferiores (44,3 anos com lesão versus 38,8 anos sem lesão), e nos membros superiores (45,6 anos com lesão versus 38,7 anos sem lesão), sem diferença estatística nas lesões de coluna. 

Também se verificou que os jogadores que não tinham experiência prévia com outros esportes com raquete tiveram menos lesões (52,4%). Além disso, a prevalência encontrada de lesões conforme o tempo de prática do beach tennis não foi proporcional. 

Nos praticantes até 12 meses e naqueles com mais de 36 meses, foram encontradas 28,2% e 25,6% de lesões, respectivamente. Assim, o maior número de jogadores com lesões ortopédicas foi encontrado nos praticantes entre 13 e 36 meses (33,8%) e nos indivíduos que treinavam mais horas por semana.

 

Como prevenir essas lesões?

“Incorpore exercícios de fortalecimento e alongamento específicos para os músculos e tendões envolvidos no beach tennis, para aumentar a resistência e flexibilidade. Foque em uma técnica correta ao bater na bola e ao realizar movimentos de arremesso, minimizando o impacto nos tendões. E uma outra questão, não menos importante: Alterne períodos de jogo com períodos de descanso adequado para permitir a recuperação dos tendões e músculos”, conclui o ortopedista.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

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