De modo geral, o aumento do consumo de alimentos industrializados, como biscoitos, salgadinhos, barrinhas, refrigerantes, sucos industrializados, entre outros, cresce a cada dia. As principais são as frutas, verduras ou mesmo o tão corriqueiro arroz e feijão estão cada vez mais distantes. Muitas vezes é possível notar que atualmente, as crianças não conseguem reconhecer a maior parte dos alimentos pelo seu nome, especialmente os vegetais. 

É justamente na infância que consolidamos os hábitos alimentares que nos acompanharão ao longo da vida, por isso vale a pena investir neste momento, dando ao seu filho a oportunidade de se aproximar da alimentação e conhecer toda a variedade que existe. A partir daí que se formará um padrão alimentar menos seletivo e que contribui positivamente para o seu crescimento e desenvolvimento. O mais importante neste processo é fazer a criançada participar e isto pode ser muito divertido, acredite. 

Para os pequenos, a familiarização com os alimentos contribuirá para a formação sólida de hábitos alimentares e, para isso, devem olhar, cheirar e manusear os alimentos. O preparo funciona como um complemento para solidificar a construção do hábito de “comer bem”, sem rótulos ou quaisquer restrições. 

 

Vamos assumir que para os nossos pequenos, este termo está relacionado ao comer variado, ou seja, de tudo um pouco, sem excessos ou neuroses. 

 

Antes de convidar o seu filho para ir até a cozinha, construa um cenário lúdico com avental, touquinha (mas se não tiver em casa, reserve uma roupa para isto, como se fosse um uniforme “Mestre Cuca”), e reforce o quanto é importante a participação neste momento. Sente e converse claramente, explicando qual deve ser a sua área de circulação, excluindo a passagem próxima ao fogão e qualquer outro lugar que seja perigoso, afastando-a de utensílios cortantes e quentes, enfim, avalie o cenário e seja muito criteriosa (o).

Para tornar este momento mais divertido, pegue os alimentos na íntegra (principalmente vegetais e frutas), sem picar ou descascar e faça uma brincadeira em que eles deverão adivinhar qual é o alimento, a sua cor interna e como podemos comer. Teste o conhecimento do seu filho sobre os alimentos que estão presentes no prato, para que ele se torne um adulto mais consciente e com escolhas mais adequadas. 

Feito isto, leia calmamente e explique a receita, posteriormente separe os ingredientes e mostre para o seu assistente mirim, destacando as suas responsabilidades e a importância dele se tornar “aberto” a experiência. Para motivá-lo você pode ainda gravar um vídeo e compartilhar com os amigos, escrever um caderno de receitas ou desenho da preparação. Nos dias em que você estiver com mais tempo, deixe a imaginação fluir dentro do que já se conhece de uma receita. Vocês podem adicionar novos ingredientes, experimentar outras cores e sabores, como em uma aquarela. 

Tome este prato como base e adicione ainda as saladas para complementar e equilibrar a refeição. 

Sei que a correria do dia a dia nos complica com relação a estas atividades, mas você pode reservar algum dia da semana, ou o final de semana, para aproveitar de forma mais relaxada esta experiência. Uma sugestão seria fazer um calendário de novas receitas em que seus filhos possam opinar no cardápio e até sugerir preparações que tenham vontade de experimentar ou adaptar. Nos demais dias, é a rotina normal alternando com as atividades da escola, de cursos ou outras atividades que tenham – é um verdadeiro desafio, acredite porque tenho filhos, mas te garanto que o resultado compensa, porém, não se sobrecarregue; pense que estamos trabalhando hábitos e o mais importante é a persistência, o caminhar a médio e longo prazo, o termo “devagar e sempre” cabe muito bem aqui, então comece e dê consistência ao processo. 

 

Planeje um tempo a mais para aplicar esta atividade, mas não deixe de fazer, pois o cenário que temos hoje relacionado a condição de saúde alimentar das crianças e adolescentes reforça esta importância, já que:

  • Possuem um hábito alimentar restritivo, principalmente para os vegetais e as frutas;
  • São sedentários e tem um elevado tempo de tela diário, o que favorece o aumento nos índices de excesso de peso, obesidade e comorbidades;
  • Apresentam ideias equivocadas sobre o que significa alimentar-se bem;
  • Não apresentam curiosidade em provar diferentes alimentos;
  • Omitem o café da manhã frequentemente, refeição está que comprovadamente é fundamental para o equilíbrio metabólico e da construção do hábito alimentar.

Estes são alguns dados do nosso panorama atual, portanto, opte por uma postura mais educativa e interativa para revertermos este panorama, começando com o exemplo em casa e, na sequência, estimular o gosto e o conhecimento sobre os alimentos e o seu preparo. 

Vamos tentar? Você pode se surpreender com esta experiência e certamente ficará mais próximo de seu filho. Pode ter certeza de que a diversão e as risadas estão garantidas, sem contar a mudança que você promoverá na sua saúde. Fica aqui o convite!

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

GUIA ALIMENTAR PARA CRIANÇAS BRASILEIRAS MENORES DE 2 ANOS, Ministério da Saúde, 2019.
PHILIPPI, Sonia Tucunduva; CRUZ, Ana Teresa Rodrigues; COLUCCI, Ana Carolina Almada. Pirâmide alimentar para crianças de 2 a 3 anos. Rev. Nutr., Campinas, v. 16, n. 1, p. 5-19,  Jan.  2003.