Eu aposto que você já ouviu alguém tendo essa mesma dúvida: “é o anticoncepcional que está prejudicando meu desejo sexual?” Na matéria anterior  pudemos esclarecer que há vários motivos para a libido estar diminuída, mas e especificamente quanto ao uso de anticoncepcionais, será que o papel deles na sexualidade é tão importante quanto o dos outros pilares?

Sobre os anticoncepcionais orais combinados 

Em 2013, foi realizada uma grande análise de 36 estudos científicos com aproximadamente 13 mil mulheres que utilizavam anticoncepcionais orais combinados (ou seja, a famosa pílula anticoncepcional) chamada “The influence of combined oral contraceptives on female sexual desire: a systematic review” 

Nesses estudos foi observada e questionada a vida sexual dessas mulheres e, ao final, algumas conclusões puderam ser constatadas: 63% dessas mulheres disseram que não perceberam mudança alguma em sua libido depois do início do anticoncepcional, porém, 21% dessas mulheres referiu que teve aumento no desejo sexual e apenas 14% afirmou que o desejo sexual diminuiu. Surpreendentemente, para quase 85% das mulheres, o uso da pílula não afetou  sua vida sexual ou, se afetou, foi positivamente! 

Sobre anticoncepcionais de longa duração 

Um estudo em 2016 avaliou 159 mulheres em uso de contraceptivos de longa duração, ou seja, dispositivos intra-uterinos (DIUs) e implantes subdérmicos (Implanon*). 

O estudo, chamado “Womens sexual function, satisfaction and perceptions after starting long-acting reversible contraceptives” demonstrou que apenas 17% do total de mulheres sentiu efeitos negativos na sua vida sexual após inserção do contraceptivo de longa duração, sendo esses causados principalmente pelos sangramentos imprevisíveis, efeito adverso relacionado aos métodos. 

40% sentiu efeitos positivos em sua sexualidade e 43% não observou nenhuma alteração quando comparado o antes e depois. Mais uma vez, para quase 85% das mulheres o uso de métodos contraceptivos de longa duração não afetou ou afetou positivamente sua vida sexual! 

Como essas medicações afetam positivamente a vida sexual?

De modo geral, o que faz o anticoncepcional melhorar a vida sexual de uma mulher é a segurança que este imprime. Superar o medo de uma gestação indesejada é o alvo na escolha do método. 

Além disso, mulheres podem se beneficiar da melhora da dor pélvica crônica e do sangramento uterino anormal com o uso de anticoncepcionais que inibem o ciclo menstrual, levando assim, a um maior prazer em uma relação sexual sem dor e sem “escapes” menstruais. 

Há também opções de pílulas que melhoram o aspecto da pele, diminuem os pêlos corporais e tiram aquele “inchaço” que tanto incomoda na TPM, causando uma melhora na autoestima. 

E por falar em TPM, há também pílulas que reduzem seus sintomas trazendo bem-estar e qualidade de vida para a mulher. 

Porque 15% das mulheres nos estudos sentiram efeitos negativos?

O outro lado da balança, já que nem tudo é perfeito, tem alguns efeitos indesejados específicos de cada método. 

Métodos com hormônios combinados (estrogênio e progesterona) podem reduzir a testosterona circulante, a qual já é baixa naturalmente na mulher, além de promover ressecamento vaginal e perda do período fértil. 

Além disso, métodos que apresentam apenas progesterona na sua composição são mais prováveis de causar sangramentos irregulares e inesperados ao longo do mês. 

Por fim, o DIU de cobre, que é um contraceptivo não hormonal muito utilizado para pacientes com contraindicações a hormônios, têm o péssimo efeito adverso de causar aumento das cólicas no período menstrual. 

A realidade da relação entre anticoncepcional e a libido

Apesar de parecer simples, essa análise da sexualidade feminina é muito complexa e não pode ser resumida apenas a números e porcentagens. As evidências científicas são reais, porém é muito difícil comparar a vida sexual entre várias mulheres —o que é bom para uma, pode não ser bom para outra. 

A atenção aos pilares para uma boa vida sexual deve ser sempre o alvo, lembrando que o autoconhecimento é a chave para uma libido saudável, independentemente do método contraceptivo de escolha. 

Algumas simples perguntas podem ajudar a refletir sobre o questionamento do título da matéria: Como era sua vida sexual antes do início desse método? Há mesmo uma relação entre o início do uso e a “queda da libido”? Nenhuma outra alteração na sua vida ou na vida do casal consegue explicar esse momento ruim da sua sexualidade? 

Feitas, elas podem te ajudar a definir qual é a melhor resposta para você! Se necessário, procure a ajuda de um profissional da saúde. 

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.