Você sabia que cerca de 96% das mulheres experimentam algum grau de dor desde a primeira semana de amamentação e permanecem com essas dores após esse período? Sim, não à  toa,  a dor é  uma das grandes razões para a interrupção da amamentação. Ter acesso as informações adequadas pode ajudar muitas a superarem esses desafios da amamentação. 

O pós-parto vem cheio de mudanças, e no meio de tudo isso, ainda surgem muitas dúvidas que, sem orientação adequada, se transformam em medos e ansiedade permeando esse período já “diferente”. Dentre os maiores desafios do maternar, e sempre citado por muitas mulheres está o aleitamento materno e a amamentação.

No universo materno, ao se deparar com o enxoval, um mundo da indústria mamãe-bebê nos apresenta e tenta vender diversos acessórios para aleitamento perfeito: bombas manuais e elétricas, conchas, esterilizadores de mamadeiras, fórmulas, copinhos, etc. e fica a dúvida: “Mas eu vou precisar disso tudo mesmo!?”. Calma! Nada de sair comprando tudo, aprender mais sobre o tema te ajudará a fazer melhores escolhas e investimentos, acredite! 

Para as mães de primeira viagem é ainda mais difícil, mas não impossível

  • “Será que amamentar é instintivo ou deveria ser?”
  • “Será que vou ter leite para alimentar o meu bebê? 
  • “Será que meu leite é fraco?”

Muitas dúvidas cercam esse momento, e ter uma rede de apoio, seja familiar como profissional e paga —é ou deveria ser fundamental para um puerpério mais leve! 

Amamentar exige preparo psicológico, emocional, físico e intelectual. É o que sempre falo: o conhecimento é essencial para melhorar a experiência, mesmo para aquelas mães que já viveram esse momento outras vezes. Afinal, cada gestação, cada filho e seus desafios são absurdamente distintos! 

 

Vamos começar do comecinho? Para embarcarmos nesse mundo do leite da mãe 

Golden Hour, a primeira mamada do bebê 

A Golden Hour é  a primeira mamada assim que ele nasce e vai direto ao colo da mãe. É sagrada pelos benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê —independente da via de parto. 

É um momento de “de ouro”, pois é o primeiro contato pele a pele entre mãe e bebê. O aleitamento na primeira hora auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia logo após o parto e favorece a descida do leite materno. 

As coisas estão a nosso favor: com mudanças nas políticas dos hospitais,  o bebê pode ir ao peito logo ao nascimento e estar em contato com a mãe no seu quarto, caso não haja nenhuma restrição ou precise de algum suporte logo após o nascimento.  

 

Colostro e sua importância 

Na gestação, devido à ação hormonal, o corpo já se prepara para fornecer alimento. As mamas aumentam de tamanho, peso, circulação sanguínea e coloração. Algumas mães até descobrem a gestação pelos sintomas de  aumento do tamanho e sensibilidade das mamas. 

Após o nascimento,  o colostro é a primeira produção da mama sendo um líquido amarelado e especial por ser rico em anticorpos com papel-chave para imunidade e desenvolvimento saudável do recém nascido. É produzido em pequena quantidade e pode gerar dúvidas em algumas mamães de primeira viagem que podem achar que estão com pouco leite. Mas vale dizer que o colostro é perfeito e produzido em quantidade suficiente para atender às necessidades e proteção personalizada do seu filho, ok?! 

Saiba mais: entre o 2º e o 5º dia após o parto, ocorrem a apojadura e a lactação, com mudanças na consistência , coloração e quantidade de leite. Agora sim, muito se fala num leite maduro. Nessa fase, a mulher pode sentir bastante diferença no tamanho e temperatura das mamas e começar a vivenciar alguns desafios para amamentar até que o seu corpo entenda a necessidade e quantidade de produção necessárias na rotina do bebezinho. 

 

Os benefícios da amamentação

Benefícios para o bebê. Redução da mortalidade e do risco de infecções respiratórias, infecções gastrintestinais, otite média aguda, maloclusão, enterocolite necrosante, Síndrome da Morte Súbita do Lactente (SMSL), leucemia e cáries dentárias. Há evidência para redução do risco de asma, obesidade na adolescência e vida adulta, diabetes e aumento da inteligência.

O leite materno tem todos os nutrientes de que o bebê precisa até o sexto mês de vida.  Após esse período, inicia-se a introdução alimentar complementar mas pode se prolongar até os dois anos ou mais. 

Benefícios para as mães. Redução do risco de câncer de mama, câncer de ovário e aumento do período da amenorreia lactacional. Há evidência para redução do risco de diabetes tipo 2 e doença cardiovascular. 

 

Dificuldades e dores na amamentação —vamos falar mais sobre isso também 

É muito comum SIM sentir dor no período da apojadura que inicia entre 2 a 5 dias após o parto, variando de uma discreta dor a um moderado desconforto e reduzindo após 7 a 10 dias. E há diversos fatores que podem atrapalhar a amamentação e saber disso, pode fazer a mulher procurar por ajuda sem sofrer ou se desmotivar a amamentar seu bebê:

A causa da dor pode ter diversos motivos: 

  • Pega e posicionamento incorretos.
  • Mamilos e individualidades de formato e bicos (vale avaliar e conversar com sua médica).
  • Alterações anatômicas da cavidade oral do bebê.
  • Disfunção motora oral. 
  • Vasoespasmo.  
  • Uso inadequado de bomba extratora. 
  • Dermatites. 
  • Infecção local. 

Caso esteja com dificuldades, fale sempre com sua médica, procure uma consultora de amamentação e conte com rede de apoio e busque informações e tratamento adequado.

Lembre-se que a maior parte das mulheres passa por dificuldades, mas pouco ainda se fala sobre o tema e disseminar mais conteúdos do tema, pode ajudar a entender que processos difíceis fazem parte também de um bom maternar. No próximo artigo, trarei mais informações de como diferentes profissionais de saúde podem te ajudar na amamentação. Nos vemos em breve!

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*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

 

Referências Bibliográficas

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