No último artigo, falamos sobre amamentação e seus benefícios para o binômio mamãe-bebê. Quebramos o tabu para tirarmos a pressão de que toda mulher já nasce pronta para amamentar ou que é sempre super simples para a mulher o tema amamentação. Trouxemos  dados que não negam, e sim revelam que mais de 96% delas experienciam algum tipo de desconforto nos primeiros meses de amamentação. 

O desconforto pode ser apenas um incômodo, uma sensação de angústia, mas geralmente vem acompanhado de uma experiência dolorosa. Hoje vamos nos aprofundar no assunto e falar sobre as possíveis causas e consequências das dores nessa fase da amamentação.

Vale ressaltar que, naturalmente, o puerpério é um período que demanda do corpo, mente e alma da mulher. Sendo assim, qualquer tipo de sensação física negativa pode se tornar um gatilho emocional. Não hesite em buscar ajuda de uma consultora de amamentação e apoio psicológico. Seu mantra na maternidade é: “Você  não precisa fazer tudo sozinha —nem estar ou se sentir só!” 

 

Olha só quem apareceu para atrapalhar o “delivery” do leite

A dor interrompe os sinais nervosos sensoriais do mamilo para o hipotálamo, prejudicando a liberação de ocitocina, importante para a ejeção do leite. 

A mama funciona como uma fábrica que produz o leite conforme a demanda e a necessidade, sendo estimulada justamente pela sucção. Quanto mais os bebês mamam, mais leite é produzido! Geralmente lactantes que sentem dores ao amamentar tendem a evitar amamentar em livre demanda ou restringem  o tempo e a frequência da amamentação por diversos motivos, entre eles, dar tempo para recuperar um mamilo lesionado ou super sensível, o que reduz a produção de leite. 

 

Problemas comuns na amamentação 

Segundo a Dra Juliana Satake, fisioterapeuta obstétrica e sócia da Clínica La Posture que cuida dos atendimentos prestados às mulheres no pré e pós-parto, cerca de 50% das mulheres com dores podem desenvolver sinais visíveis nas mamas, como vesículas, hematomas, eritema, edema, rachaduras, fissuras, escoriações, úlceras e exsudato —que estão associados ao risco de inflamação importante (ingurgitamento,  mastite) e é essencial sinalizar ao médico e iniciar tratamento adequado.

 

Muitas puérperas, nos procuram com indicação de colegas médicos e pediatras para auxiliarmos no pré e pós-parto. Algumas com queixas para cuidarmos das incisões ou cicatrizes de uma cesárea ou até de episiotomia, acelerando a cicatrização e ajudando principalmente a reduzir as dores. Mas ainda pouco se indica para o atendimento no puerpério em que elas nos buscam também para auxiliarmos nas fases da amamentação mais desafiadoras em que conseguimos avaliar, tratar alguns casos e principalmente direcionar aos colegas fonoaudiólogos e odontopediatras, por exemplo, quando envolverem outras questões.

 

Existe uma posição correta para amamentar?

Não existe uma única posição correta para amamentar, assim como também não existe a posição “perfeita”. A posição ideal para cada mãe-bebê deve sempre respeitar e se adequar permitindo o maior conforto e relaxamento da mãe, ao  mesmo tempo garantir a pega correta da mamada para que ela seja sempre eficiente.

Apesar de não ter certo e errado na posição, sabemos que encontrar esse conforto no posicionamento da mamada, pode ser difícil nas primeiras semanas, pois apesar de existir bastante informação sobre a pegada correta, não há tanto suporte sobre como a mãe pode garantir mais suporte e conforto para si mesma durante a amamentação. Por isso, pedi a ajuda de fisioterapeutas que entendem de obstetrícia e amamentação para deixar sugestões bastante simples, mas super úteis para melhorar a experiência das mães e dos bebês também! Vamos lá e anote as dicas:

 

Escolhas de poltrona e almofada na amamentação: 

  • Ao amamentar, caso use poltrona de amamentação ou decida amamentar na cama mesmo, adapte uma almofadinha na lombar e apoio para sua cervical (cabeça), caso não possua apoio nessa região.
  • O ideal é que a coluna da mãe fique encostada e apoiada para evitar sobrecargas, já que o foco será você conseguir amamentar.
  • Caso seja possível, coloque uma cadeira, pufe ou apoio para pernas, isso ajudará no descanso das pernas. Mas se lembre de deixar os joelhos apoiados e uma almofadinha embaixo deles.
  • Os braços da mãe ao amamentar devem estar apoiados para evitar tensão muscular e dor articular ao se manter muito tempo sustentando o peso do bebê. 
  • Investir ou não em uma almofada de amamentação? Antes da compra, se possível, experimente e escolha um modelo mais firme que te ajude em apoio ergonômico, isso é, que te deixe segura em apoiar o bebê numa altura que se adapte ao seu corpo. Simule a posição que irá amamentar.
  • Lembre-se que há diversas opções de posicionamento para amamentar: tradicional, invertida, cavalinho, etc. Para cada mãe e cada bebê haverá um jeitinho que pode se adequar melhor a cada momento! Use e abuse das opções de posicionamento caso sinta desconfortos na mama! 

 

Como alinhar o corpo do bebê  junto ao seu corpo para amamentar:

  • O corpo do bebê deve estar alinhado com o corpo da mãe —“barriga com barriga”  
  • O bebê precisa abocanhar abrangendo a aréola e não o mamilo. Há distintos tamanhos de aréola e nem sempre o bebê consegue abocanhá-la inteira e está tudo bem também, desde que ele não fique apenas no mamilo, pois isso irá machucar! 
  • Muitas mães acham que o bebê não consegue respirar ao mamar na mama cheia, mas na posição correta, ele inclinará a testa levemente para trás e iniciará a pega. Essa posição mantém as narinas livres
  • Atenção aos sinais e sons estalidos. O bebê pode não estar sugando da maneira correta e ficará mais irritadiço também. Lembre-se que você pode reposicioná-lo. Uma dica é usar seu dedo mínimo para gentilmente tirar o vácuo que se forma na sucção da boca com a sua mama. Basta afastar com cuidado,  o bebê pela lateral da boca facilitando o reposicionamento para uma nova pega. O mesmo vale se estiver doendo durante a amamentação. 
  • Não invista em acessórios caros e desnecessários na  amamentação, como conchas e bicos de silicone. Procure sempre por profissionais que possam te orientar sobre o uso correto e as reais necessidades caso apresente dificuldades.
  • O único investimento de baixíssimo  custo que pode ajudar muitas mulheres  é a rosca de amamentação. Ela consiste em um tecido de algodão em formato de rosca que tem por função afastar o mamilo do toque de soutien e roupa na mama geralmente super sensível nas primeiras semanas. Se preferir economizar, você mesma pode adaptar ou costurar um parzinho de roscas em casa. Se você nunca viu uma rosca, clique aqui no link! Ah, e não é publi, ok? 

Em casos de dúvidas e dores na amamentação, vale contar com rede de apoio para compartilhar as dificuldades e a ajuda profissional para contornar esse período com mais leveza. Busque profissionais com escuta empática: médicos, fonoaudiólogos, enfermeiras, osteopatas, fisioterapeutas, odontopediatras, para que possam avaliar o caso e acompanhar você e seu bebê neste processo! 

 

Colaboração: Dra Juliana Satake, especializada em obstetrícia pela Unicamp.

 

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.