Os festivais de música atualmente são muito mais do que shows. Claro, você pode ser atraído a ele pela oportunidade de ver aquela banda internacional famosa, mas, ao participar de um, o que você encontra é um novo universo. Nele, cada canto é uma descoberta: arte para tocar e sentir, luzes e cores que mudam com a música, espaços onde você pode aprender e criar. 

Alguns incluem até um parque de diversões dentro do festival. São experiências que permanecem com você, muito depois da música ter parado. O festival é um lugar de encontros, risadas e momentos que celebram a vida, onde todos têm algo em comum: a vontade de viver algo especial em conjunto.

Nos festivais, a diversidade é mais do que bem-vinda; é a estrela da festa. Esses eventos mostram como a sociedade poderia ser: um lugar onde as diferenças não são apenas aceitas, mas sim celebradas. Lá, ninguém espera que você seja igual a todos. Cada pessoa tem sua própria história, estilo e pensamento, e é justamente isso que traz riqueza ao festival. As diferenças entre nós não são barreiras, mas sim pontes que nos conectam através da música e da arte. Afinal, se todos fôssemos iguais, que graça teria? 

O festival nos lembra que ser diferente não é apenas normal, mas é o que nos torna humanos.

Agora, já parou para pensar no desafio operacional que representa fazer um festival? 

Transformar um local, como exemplo um autódromo de automobilismo ou um sítio, em praticamente uma cidade efêmera repleta de entretenimento e experiências exige não apenas a montagem de uma infraestrutura robusta para saneamento, energia e água, mas também a construção de palcos, instalação de banheiros e áreas de convivência, além do planejamento de estandes de marcas e espaços para vivências únicas e interativas. Uma logística complexa é necessária para gerenciar multidões, o que muitas vezes leva meses de planejamento e construção.

E quando se fala em acessibilidade, o desafio é ainda maior: garantir que todos os cenários considerem a inclusão não é apenas uma questão de cumprir regulamentos, mas de honrar o espírito do festival, assegurando que cada visitante, independentemente de suas habilidades físicas, sensoriais ou cognitivas, possa experimentar plenamente a magia do evento.

Na prática, a inclusão no contexto dos festivais não é apenas uma ideia ou um cenário distante; é uma realidade que já vem sendo construída. Um exemplo a ser citado foi a primeira edição do The Town, evento irmão do já consagrado Rock in Rio, que aconteceu em São Paulo em 2023, no Autódromo de Interlagos. O festival, mesmo diante dos desafios geográficos, não se limitou apenas ao cumprimento das normativas de acessibilidade, mas em proporcionar uma verdadeira experiência inclusiva completa para todos os públicos com uma operação especializada e dedicada à esse público, coordenada pelo Thiago Amaral, uma pessoa com deficiência a frente do projeto de acessibilidade do festival.

O festival introduziu algumas soluções inovadoras, como um espaço sensorial, uma sala de Acomodação e Regulação Sensorial, destinada a todas as pessoas, com especial atenção àquelas com Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), comum entre indivíduos neurodivergentes. O ‘Espaço Sinta o Som’, voltado para o público com deficiência auditiva, foi estrategicamente posicionado próximo às caixas de som dos principais palcos, permitindo que a vibração da música fosse sentida em suas diversas formas. Mapas táteis com legendas em braille foram disponibilizados para pessoas com deficiência visual. O empréstimo gratuito de um ‘kit livre’, que transforma uma cadeira de rodas comum em um triciclo motorizado, facilitou a locomoção pelo festival. Uma tirolesa adaptada com uma cadeira escaladora automática permitiu que pessoas com mobilidade reduzida experimentassem a emoção de voar sobre a multidão, e a roda-gigante incluiu uma cabine acessível para cadeiras de rodas.

Além de ter uma equipe de fisioterapia e profissionais de educação física especializada orientando e auxiliando o público PCD nos pontos críticos, empréstimo de cadeira de rodas, intérprete em libras, audiodescrição, plataformas elevadas próximas aos principais palcos para pessoas em cadeira de rodas e pessoas com nanismo, dentre outras soluções.

Ações como essa que promovem e colocam a acessibilidade em destaque, não são apenas testemunhos do que é possível; elas servem como um lembrete de que, quando a acessibilidade é priorizada e planejada, os eventos podem realmente ser para todos. Se podemos superar as adversidades e criar espaços inclusivos em locais tão desafiadores quanto um festival, então por quê não podemos estender essa mentalidade para todos os ambientes da sociedade? 

Afinal, a acessibilidade não é um favor que fazemos para alguns, é um benefício que, conforme destacado em meu texto anterior, enriquece a todos.

*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.