Se há uma coisa que costumo ser exigente com meus pacientes pré-natais é controlar o ganho de peso durante a gravidez. Isso porque, entre as variáveis que podem ser controladas, o ganho de peso certamente está entre as que têm maior impacto na saúde da mãe e principalmente do bebê.
O ganho de peso em excesso é o principal fator de risco para o desenvolvimento de diabetes, não só na gestação. Segundo o ministério da saúde, estima-se que 58% dos casos de diabetes no Brasil estejam relacionados à obesidade. Já são mais de 20 milhões de diabéticos no país, o que representa algo em torno de 10% da população, colocando o Brasil em quarto lugar na lista de países com mais adultos diabéticos no mundo.
Qual a diferença do diabetes gestacional com outros tipos de diabetes?
Diabetes gestacional é aquela que ocorre temporariamente durante a gravidez. Seu diagnóstico ocorre durante o pré-natal e na grande maioria das vezes tudo se normaliza após o parto. O fato é que, mesmo que tudo volte ao normal após o parto, essas mulheres têm um risco muito mais alto de desenvolverem diabetes em algum momento da vida.
O diagnóstico de diabetes gestacional pode acontecer em duas situações: primeiro se a glicemia realizada logo no início da gestação estiver alterada ou através do teste oral de tolerância à glicose, aquele em que é feita uma dosagem da glicemia em jejum, uma hora e duas horas após a ingestão de um líquido com uma quantidade específica de açúcar. Lembrando que toda gestante deve realizar esses exames todas as vezes que engravidar.
Durante a gravidez, a placenta acaba tendo várias funções, uma delas é servir como filtro, impedindo que algumas substâncias no sangue materno passem para os fetos. Mas isso não acontece com a glicose, que passa livremente. Sendo assim, a quantidade de açúcar encontrado no sangue materno é o mesmo que no sangue dos fetos, que sofrem muito mais com as consequências disso.
Entre as complicações que podem ocorrer com os fetos, a principal e mais frequente é o crescimento excessivo, chamado de macrossomia, que pode levar a complicações no parto normal e aumentar a incidência de cesáreas. Após o nascimento, filhos de gestantes com diabetes não controlada têm maior risco de hipoglicemia e desconforto respiratório.
Para as gestantes o risco é maior de infecção urinária, pressão alta, parto prematuro e hemorragia pós-parto.
Importante ressaltar que essas complicações, tanto para a gestante quanto para o bebê, podem ser evitadas com um controle rigoroso dos níveis de glicose no sangue.
O tratamento inicial consiste num controle da ingestão de carboidratos, principalmente os simples, e açúcares. A dieta deve ser orientada por um nutricionista, associada à prática de atividades físicas regulares. Recomenda-se que mulheres com diabetes gestacional pratiquem exercícios aeróbicos e resistidos com intensidade moderada, por pelo menos 20 a 30 minutos por dia, na maioria ou todos os dias da semana.
Nos casos em que o controle da glicemia não é possível com essas medidas comportamentais, o uso de insulina pode ser necessário.
Costumo dizer que alguns problemas e complicações não estão ao nosso alcance para serem evitados, não só durante a gravidez e no parto, mas ao longo de toda vida. Por exemplo, algumas complicações genéticas ou malformações não dependem do nosso esforço ou de nossos hábitos, só que muitas vezes perdemos tempo e gastamos energia nos preocupando com elas, mesmo que elas não possam ser mudadas.
Mas se tem algo que pode ser feito e que é capaz de causar um enorme impacto na saúde de mães e bebês durante a gestação é o controle do peso. E isso se torna muito mais fácil quando a gestante adota hábitos de vida saudáveis, principalmente cuidando da alimentação e praticando atividade física regularmente.
*O conteúdo dessa matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.
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