Millennials, geração X, Z, Alpha e, até os baby boomers…Geração após geração, acompanhamos um mundo com mais exigências, ditado por um ritmo de velocidade, acesso à MUITA informação e constantes mudanças tecnológicas disruptivas. Estamos imersos em urgências e imediatismos, e nem sempre -até arrisco dizer que NUNCA – alinhados ao ritmo biológico ou  natural da vida. 

“Tudo é pra ontem”. Nesse contexto de correria, buscamos que tudo seja eficaz, isto é, desejamos resultados mas com o mínimo de tempo e de energia despendidos. Queremos performar, render e sermos resolutivos em absolutamente todos aspectos da vida -como se a vida pudesse ser colocada facilmente num planner ou to do list.

A grande questão é que quando se pensa dessa forma em saúde, buscamos as mesmas soluções rápidas e milagrosas. Há sempre um “remedinho” para tudo e para todas as nossas dores: pílula para dor de cabeça, cinta para dor na coluna, antiácido para dor de estômago e até remédio para perder peso “sem esforço”. São essas soluções disponíveis que, quando mal utilizadas, mascaram um diagnóstico correto e atrapalham o início de tratamento correto. Quem nunca viu alguém tomando um analgésico todos os dias para mascarar a dor e poder ir trabalhar? Quem não conhece alguém que teve um burnout nos últimos tempos? 

Mas a maior ironia está no fato de que, por mais que essa geração seja, de fato, produtiva, o mundo parece girar cada vez mais rápido e exigir cada vez mais. O fato de estarmos conectados o tempo todo e ao mesmo tempo, traz a falsa sensação de que podemos estar em mil lugares ao mesmo tempo em diferentes papéis -o que é humanamente impossível, e tem sido uma razão comum para que nossa geração tenha uma sensação constante de escassez e de insuficiência. 

Nunca temos tempo suficiente para “todas” as tarefas do dia, não é mesmo? Ou nunca somos o suficiente para dar conta das atividades ou das metas.

A correria de final de ano e a sensação de cansaço acumulado geralmente é dedurada por um corpo que sente essa sobrecarga. É muito comum, acompanharmos um aumento do fluxo de pessoas procurando por clínicas médicas, de saúde e bem-estar, para um check up ou uma solução rápida por resultados que não foram atingidos durante 12 meses. Observo também, muitos procurando tratar a tensão muscular, resultado de estresse e fadiga física e mental. Sabe aquele dia que a pessoa acorda e está “travada?” Saiba que aquele dia foi o acúmulo de outros muitos outros que podem ter sido negligenciados ao longo do tempo. 

O corpo dói e grita, a imunidade vai de mal a pior e a saúde mental já não existe há um certo tempo quando chega nesse ponto. Todo mês de dezembro, fico reflexiva e gosto de rever -o que mudou, as conquistas, o que ficou em aberto – fazer um balanço de um to do list do ano que termina e do que se inicia.

Tudo parece ser importante e urgente quando partimos do princípio que há saúde. Somente quando há dores ou alguma doença, é que entendemos o que verdadeiramente é importante e real em nossas vidas. Nos perdemos nos nossos próprios valores e no que é necessário e básico para o bom viver. E atenção, não é por falta de acesso à informação, hein! 

Nossa geração tem acesso a muita coisa o tempo todo! Na palma da mão, conseguimos acessar os resultados da nova pesquisa sobre o tratamento X ou Y. E apesar de toda facilidade e de sermos bombardeados por informações de saúde, alimentação, atividade física, saúde mental… estamos mais ansiosos e doentes. Isso significa que não conseguimos colocar em prática o que se sabe e nem conseguimos manejar o to do list da rotina como deveríamos. 

Ser multitask para nós, da geração millennial, é algo normalizado: a pessoa cuida dos filhos, cuida dos pais, é socialmente ativa, tem rede de amigos, viaja e frequenta lugares cool, e, claro,  no trabalho que é um aspecto importante da vida: bons networks, MBA, atinge as metas do projeto e, vai ser promovida(o) -de novo!!! E pula para o próximo ano, a pessoa se vê imersa em uma imensa lista que geralmente não contempla a si mesmo nem prioriza a si no quesito saúde!

Sabemos que devemos priorizar nossa saúde, mas a verdade seja dita, muitas vezes só entendemos que ela é prioridade quando a perdemos de alguma forma, seja como um  sinal de alerta por dores ou doenças de pessoas próximas. Mas será que precisamos mesmo chegar nesse ponto para realmente reavaliar nosso estilo de vida? 

E daqui a algumas semanas, lá vem um novo ano! Uma nova energia, seria essa a chance de iniciar um novo ciclo sem que um novo turbilhão de “urgências” apareçam? Será que você irá entrar na inércia e cair novamente no “looping” da rotina?  Sim, somos imediatistas e queremos tudo o tempo todo com o mínimo de investimento. Mascarar uma dorzinha, um problemazinho de saúde é tapar o Sol com a peneira. Os sintomas sempre serão apenas a ponta do iceberg de uma questão maior envolvendo sua saúde. 

Entretanto, quando se pensa em cuidar da saúde, a busca por soluções milagrosas dos problemas não está em nada que seja fast ou miraculous, não adianta assistir vídeos curtos com “dicas” de nutrição, nem ler posts de motivação para se manter psicologicamente bem. Calma, também não adianta apenas ler conteúdos de saúde e bem-estar como esse que vos comunica quinzenalmente. A diferença está em ter acesso à informação e em, de fato, inserir na sua rotina como conhecimento. Se tudo é importante, sempre haverá escassez de tempo e nada será prioridade. Vou te convidar a refletir sobre o tema e nos vemos na próxima matéria da coluna com informações que podem ser o pontapé inicial para você escolher tomar as rédeas da sua própria rotina.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

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