Se você é mulher e sente dores durante a relação sexual, lamento informar que muitas mulheres apresentam essa queixa no consultório — e em conversas entre amigas.

Estima-se que entre 16 e 40% das mulheres podem vivenciar a disfunção sexual, sendo que essa porcentagem aumenta com a idade, já que a prevalência é muito maior em mulheres de meia idade, quando comparado com mulheres mais jovens. 

Dentre os distúrbios mais comuns, destaca-se a dispareunia, termo utilizado quando envolve o aparecimento de dor durante ou após a relação sexual, afetando diretamente a saúde física, o bem-estar sexual e mental da mulher.

Para conversar mais sobre esse tema, convidei uma amiga querida, fisioterapeuta especializada na saúde da mulher pelo HCFMUSP, que fez pós-graduação em sexologia clínica comigo em 2022 pelo Hospital Pérola Byington, a Dra Lorrane Peixoto. Ela tem uma paixão, assim como eu, com o cuidado integral da mulher, principalmente na melhoria da qualidade de vida e tratamento da dor. 

 

Acompanhe a entrevista com a Dra. Lorrane

Dra Giulia. Afinal, é normal sentir dor durante a relação sexual?

Dra Lorrane. Não. Sentir dor durante a relação sexual não é normal e precisa ser investigado para que o tratamento seja bem direcionado.  

Dra Giulia. E existe um nome específico para esse problema?

Dra Lorrane. Atualmente é denominado de Transtorno de Dor genitopélvica/penetração, onde dentro deste grupo estão todos os distúrbios sexuais dolorosos femininos conhecidos anteriormente como dispareunia, vaginismo, vulvodinia e vestibulodínia. Todas essas patologias são caracterizadas por dor na região genital e até mesmo em regiões adjacentes, existindo algumas particularidades entre elas. No caso da dor na relação sexual, também chamada de dispareunia, a dor pode ser classificada como superficial quando afeta a vulva e a entrada vaginal, ou profunda quando a área dolorosa é posterior, mais ao fundo da vagina. Outra classificação a divide em primária, associada à dor no início da vida sexual, e secundária, quando aparece posteriormente.

 

Dra Giulia. Quais são as causas do Transtorno de Dor Genitopélvica?

Dra Lorrane. O Transtorno de Dor Genitopélvica pode ser causado por alergias, anormalidades congênitas, doenças dermatológicas, fístulas, câncer ginecológico, prolapsos de órgãos pélvicos, irritação na região por atrito ou uso de cosméticos, trauma, infecções, atrofia genital, lubrificação inadequada, síndrome da dor pélvica crônica, endometriose, doença de crohn, hemorroidas, síndrome do intestino irritável, disfunções dos músculos do assoalho pélvico, doença inflamatória pélvica, fatores psicológicos e entre outros.

 

Dra Giulia. A dor acontece apenas durante a relação ou pode aparecer em outras situações?

Dra Lorrane. A dor pode acontecer durante a relação sexual e permanecer após a relação, chegando a durar dias. No caso da vulvodínia e da vestibulodínia, a dor pode ser desencadeada por outras situações, como roupa apertada, uso de cosméticos na região ou próximo a ela, permanecer sentada por muito tempo, andar de bicicleta e entre outras coisas que devem ser observadas pela própria paciente.  

 

Dra Giulia. A dor genitopélvica tem tratamento?

Dra Lorrane. Sim. Além de medicamentos, mudanças no estilo de vida, a fisioterapia pélvica pode ser uma grande aliada no tratamento dessas disfunções.

 

Dra Giulia. E como a sua área, a fisioterapia pélvica, pode ajudar?

Dra Lorrane. A fisioterapia pélvica é considerada pelas grandes diretrizes de pesquisa como primeira linha de tratamento no Transtorno de Dor Genitopélvica, atuando com a realização de exercícios de treinamento dos músculos do assoalho pélvico, terapia manual, relaxamento global, controle da dor com o uso de equipamentos específicos, liberação de pontos-gatilhos e outras técnicas que podem ser incluídas a depender de cada caso, visto que as causas para essas disfunções são inúmeras e devem ser tratadas com individualidade.  

Infelizmente, não são todas as mulheres que têm acesso a esse tipo de informação e acreditam que todas essas dores conversadas acima são normais e que não tem como melhorar. Não, sentir dor não é normal! E olha só quantos tipos de profissionais estão capacitados a tratar essa queixa: seu ginecologista pode ser a porta de entrada para uma infinidade de outras especialidades capazes de resolver o seu problema de diversas maneiras possíveis. 

Para saber mais sobre esse assunto e outros temas sobre sexualidade, não deixe de acompanhar minha coluna aqui na IstoÉ Bem-estar.

 

Colaboração: Lorrane Peixoto (fisioterapeuta, CREFITO 3/252554-F), pós-graduada em neurociência e comportamento pela PUC, acupunturista e especializada em dor pela USP. 

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.