Atualmente, é cada vez mais importante refletirmos sobre estratégias que possam colaborar com uma nutrição mais acessível e com um sistema de cultivo ou produção menos agressivos ao meio ambiente. Sabemos que milhões de pessoas, a nível mundial, e particularmente nos países em desenvolvimento, não possuem alimentos suficientes para suprir as suas necessidades nutricionais diárias básicas, demonstrando um cenário de fome e desigualdades sociais que necessita ser enfrentado. Nesse contexto, surgem os alimentos germinados como uma alternativa viável.

 

Alimentos germinados: uma alternativa sustentável e nutritiva

Os alimentos germinados e os microgreens (versões menores de um vegetal comestível, como hortaliça, legumes ou condimento), surgem como uma alternativa viável por serem considerados como uma opção que aporta benefícios nutricionais e um sistema de cultivo sustentável, promovendo o uso eficiente de recursos, menor desperdício de alimentos e a utilização de espaços reduzidos para o cultivo. Ao incluí-los na dieta, estamos contribuindo para a segurança e soberania alimentar e a conservação dos recursos naturais, afirma a Dra. Raquel Bridi, da Universidade de Chile.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma dieta saudável deve estar inserida em um sistema alimentar sustentável, além de promover a saúde e prevenir doenças. Deve também estar disponível a preços acessíveis e atraentes para todos, além de cuidar do planeta, do solo, da água e da biodiversidade. 

Alimentos germinados e microgreens são alimentos que podem ser implementados em qualquer padrão alimentar, inclusive para os adeptos do vegetarianismo, veganismo e crudivorismo, como também para muitas pessoas que nos últimos anos decidiram diminuir o seu consumo de produtos de origem animal, os flexitarianos, afirmam os doutores Raquel e Adriano. 

Os pais também podem tirar partido da aparência “fofa” que as pequenas hortaliças têm perante as crianças, introduzindo estes alimentos nutritivos na dieta dos pequenos.

Os doutores Raquel Bridi e Adriano de Camargo, professores da Universidade do Chile, nos propõe uma reflexão acerca do conceito de segurança alimentar e práticas sustentáveis na alimentação, considerando o consumo de alimentos germinados como uma alternativa possível de ser implementada, contribuindo com a promoção de uma mudança de hábitos alimentares, por meio de uma estratégia inovadora e sustentável. 

Outra realidade em que podemos pensar na utilização deste tipo de cultivo seria em locais em que não há grande espaço para fazê-lo, o que acontece atualmente, com as leguminosas como feijão, lentilha, grão de bico e ervilha, alimentos que contribuem de maneira relevante com a nossa nutrição diária, uma vez que são fontes de fibra alimentar, ferro e vitaminas do complexo B. 

Neste caso, e em outros similares, a implementação do cultivo na forma geminada seria possível em espaços menores —inclusive em casas e apartamentos —e mais otimizados, com práticas menos agressivas ao meio ambiente, com um menor custo, tornando o alimento mais acessível à população em todos os aspectos. 

 

Benefícios dos alimentos germinados

Dados científicos mostram que os alimentos germinados, dependendo das etapas e condições de germinação, oferecem uma nutrição superior em comparação com grãos não germinados e plantas maduras. Isto acontece porque tendem a apresentar uma proteína vegetal de maior digestibilidade, além de maior disponibilidade de nutrientes como ferro, magnésio, cálcio e vitaminas do complexo B.

Além destes benefícios para a saúde, os grãos germinados têm sido destacados por numerosos estudos científicos devido a sua colaboração na melhora da imunidade e propriedades antioxidantes, isto porque durante o processo de germinação ocorre a indução de uma série de mudanças bioquímicas nas sementes, levando ao acúmulo de compostos funcionais altamente benéficos para a nossa saúde. Isso garante a estes alimentos a classificação como alimentos saudáveis por fornecerem elementos nutricionais e propriedades bioativas melhoradas. 

No entanto, para que tenhamos viabilidade nesta proposta, é importante enfatizar que:

  1. Podemos produzir germinados em nossa casa.
  2. Como adicionar estes alimentos em nosso prato.
  3. Onde encontrá-los. 

Segundo o professor Adriano, o primeiro ponto é de suma importância, já que nos lares o desenvolvimento do germinado pode ser acompanhado por toda a família, gerando um ambiente colaborativo e de protagonismo em relação à alimentação familiar. 

 

Como consumir os alimentos germinados?

Inicialmente, gostaria de te contar que estes alimentos possuem sabor delicado e bastante agradável, garantindo versatilidade e palatabilidade em qualquer preparação. O recomendado é consumi-los crus ou submetidos a uma leve cocção por poucos minutos, para garantir as propriedades nutricionais comentadas acima. 

O convite é adicionar os germinados em salada, sopas (ao final da preparação), ou como recheios de sanduíche, misturados com uma pastinha de queijo cremoso, pimentão e cenoura. Os molhos para temperos de saladas ou também para acompanhar aperitivos são alternativas bastante apropriadas, ficam deliciosos também junto aos sucos de frutas. Adriano nos oferece a sugestão de preparar produtos de panificação com as farinhas de germinados, adicionando sabor e qualidade a nossa alimentação cotidiana. 

 

Onde encontrá-los?

Podem ser encontrados em hortifrutis, mercados e na internet. Em uma busca rápida você poderá encontrar em sites especializados na venda de produtos orgânicos e germinados. Muitas são as possibilidades de utilização, por isto, te convidamos a experimentá-los e introduzir aos poucos, e à sua maneira, novos hábitos e alimentos que poderão trazer inúmeros benefícios para a sua saúde. 

 

Em Colaboração: Dra. Raquel Bridi, farmacêutica, professora e diretora no Departamento de Química Farmacológica e Toxicológica da Universidade do Chile.

Dr. Adriano Costa de Camargo, cientista de alimentos, professor e diretor da Unidade de Nutrição Básica do Instituto de Nutrição e Tecnologia de Alimentos (INTA), da Universidade do Chile (UChile) e membro do grupo de líderes da divisão de Nutracêuticos e Alimentos Funcionais do Institute of Food Technologists (IFT), com sede em Chicago, nos Estados Unidos.

 

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas