Quando recebi o convite da Dra. Paola Machado para escrever aqui na “Isto É” imediatamente comecei a pensar o que escreveria na minha primeira coluna, e concluí que eu deveria explicar o que eu vim fazer nas redes sociais em primeiro lugar.
Quando eu comecei a postar conteúdo sobre saúde mental no Instagram, eu não sabia exatamente o que eu queria. No entanto, depois de mais de um ano e meio, ficou progressivamente claro o meu objetivo: informar as pessoas (profissionais de saúde, pacientes e interessados) sobre a mudança de Paradigma que está acontecendo neste momento na forma como enxergamos a saúde mental. Pode parecer abstrato, mas permaneça neste texto porque vai ser importante você saber mais sobre isso e vai ficar mais claro daqui a pouco.
Para te explicar melhor, vou contar um pouco da minha trajetória:
Vida pessoal: sou católico e casado com uma médica endocrinologista, Sthefanie, e tenho com ela dois filhos (Felipe, de 2 anos, e Gabriel, de 2 meses).
Trajetória profissional:
Quando eu entrei na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em 2010, eu não tinha ideia de qual especialidade médica seguiria.
No entanto, eu já sabia algumas coisas:
– Eu gostava de neurociência;
– Eu já me interessava muito pelo universo interior das outras pessoas;
– Eu queria uma especialidade que estivesse em crescimento e que passasse por mudança nas próximas décadas.
E descobri que a Psiquiatria tinha tudo isso!
Então, eu fui atrás de atividades extracurriculares na área. Eu participei de algumas Ligas Acadêmicas e iniciei uma longa trajetória em pesquisa em neurociência. E essa minha experiência pessoal com a Psiquiatria foi muito positiva ao longo da graduação: confirmou as minhas três expectativas e assim me orientou para essa escolha pela psiquiatria como especialidade.
A experiência na residência médica e depois como preceptor na coordenação da residência médica do IPq do Hospital das Clínicas da FMUSP confirmou mais uma vez as minhas expectativas. Também importantes, mais de 10 anos dedicado a pesquisa na área de neuroimagem dos transtornos mentais e dezenas de artigos científicos publicados me convenceram da importância das neurociências para nos trazer insights fundamentais sobre a saúde mental.
No entanto, foi a prática em consultório que, em seguida, me trouxe a certeza de que eu fiz a escolha certa:
– Estudar neurociência, desenvolvimento humano e teorias da personalidade foi sempre extremamente gratificante tanto do ponto de vista intelectual quanto pelos efeitos práticos positivos nos meus pacientes;
– Receber a confiança dos pacientes e de seus familiares ao trazer pra mim seus universos pessoais é uma experiência cada vez mais valiosa e que me ajuda a sempre a seguir em frente;
– As mudanças recentes e as prováveis evoluções dos próximos anos da psiquiatria oferecem um desafio interessantíssimo e que vale muito a minha energia e o meu tempo.
Pronto, voltamos à ideia de que a psiquiatria está, neste exato momento em que você lê este texto, passando por uma mudança importante.
Afinal, o que está acontecendo? Para resumir, a maneira como os diagnósticos psiquiátricos são organizados está repleta de falhas e sendo questionada pela comunidade científica e de profissionais de saúde. Não me leve a mal, mas a classificação atual foi um avanço em relação ao que era 50 anos atrás. Entretanto, ela tem muitos problemas e precisamos de um novo paradigma para solucioná-los.
Na semana que vem vou escrever um texto só sobre isso, mas vou adiantar um exemplo: muitos pacientes ficam assustados ao saberem que tem muitos diagnósticos psiquiátricos: “Nossa, mas eu tenho depressão, ansiedade, insônia e TDAH? Tudo isso junto?” Pois é, a classificação atual inclui algo que chamamos de comorbidades: é mais comum que alguém tenha mais de um diagnóstico do que somente um. Essa é uma maneira de descrevermos alguém que tem um número grande de sintomas, mas fica parecendo que há várias coisas separadas acontecendo em uma mesma pessoa. E a realidade não é bem assim. Na realidade, os sintomas dos transtornos mentais têm uma enorme relação com a nossa personalidade.
E como resolver isso? Precisamos de um novo paradigma que parta da descrição da personalidade das pessoas, incluindo a sua expressão emocional, relações interpessoais e performance em tarefas cotidianas que exigem esforço. Ainda, esse paradigma precisa nos ajudar a entender como essa personalidade se tornou o que é hoje: precisamos entender o desenvolvimento das pessoas.
Então, se você quer saber mais sobre:
- A sua saúde emocional;
- Suas relações com as outras pessoas;
- Sua performance na rotina, estudo e trabalho.
Você veio ao lugar certo! Inauguro hoje esta coluna com esses três pilares! Até a semana que vem!
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