O convite para assistir a série é atrativo e creio que interessa à grande maioria das pessoas, principalmente porque estamos falando em chegar aos 90 ou 100 anos vivendo bem, com independência e autonomia.

Os pontos centrais para este caminho tão desejado, consistem em replicar o modo de vida das regiões conhecidas como Blue Zones, estas são locais ao redor do mundo, em que as pessoas vivem por mais tempo a partir do cultivo de hábitos e atitudes que favorecem a prevenção das principais doenças que matam ou debilitam na atualidade: câncer, diabetes, problemas cardíacos, demência, Parkinson e Alzheimer entre outras; e podemos encontrá-las nos Estados Unidos (Loma Linda), em Okinawa (Japão), na Sardenha (Itália), na Península de Nicoya (Costa Rica) e Icária, na Grécia. 

Algumas das atitudes cultivadas me chamaram a atenção e quero compartilhar com vocês. 

Considero que são mudanças que podemos incorporar em nosso dia a dia e tenho certeza de que os benefícios acontecerão em todos os níveis: físico, mental e metabólico.

  • Cultivar a conexão com o seu corpo na hora de se alimentar: comer sem exageros e de maneira consciente sempre foi conhecido como um aspecto essencial para a saúde e longevidade; a questão é saber ler o seu corpo no momento das refeições, e parar de se alimentar antes de sentir-se completamente “cheia” e com a sensação de que excedeu o seu limite de alimentos. 

Na prática, isto é possível de ser feito a partir do que conhecemos como atenção plena na alimentação, ou seja, desconectando-se do restante e se conectando com você no momento das refeições. Isto dará a possibilidade de perceber melhor as sensações de fome e saciedade, favorecendo o melhor controle e evitando o comer excessivo. Lembre-se de que a mastigação ajuda no processo e tenha certeza de que ao final da refeição estará satisfeita sem sobrecarregar a sua digestão e assimilação de nutrientes;

  • Consumir alimentos que tenham carboidratos integrais ou de baixa velocidade de absorção: sem vilanizar os alimentos, mas sim sabendo escolhê-los, os carboidratos devem fazer parte de sua alimentação, e para isto basta escolher aqueles que ajudam na saciedade e também moderam de melhor forma a taxa de açúcar no sangue (glicemia).  Pães e arroz integrais, cereais como aveia, amaranto e quinoa, trigo sarraceno são alguns destes alimentos. A dieta tradicionalmente praticada em Okinawa baseia-se em uma quantidade > 90% da caloria proveniente dos carboidratos, vindo na forma de vegetais, demonstrando que estamos falando de uma dieta com grande quantidade de verduras e legumes.

Adiciono aqui a informação de que as leguminosas (feijão em suas variedades, lentilha, grão de bico), também são ricas nesses carboidratos e além disto possuem proteína vegetal de boa qualidade e compostos antioxidantes bons à saúde e que também contribuem para a longevidade;

  • Comer comidas frescas e de preferência colhidas direto da horta: esta é a melhor forma de extrair os alimentos da natureza, com maior quantidade de nutrientes porém, sabemos que na vida em grandes cidades pode ser mais difícil então, a sugestão que lhe dou já é bem conhecida: “Desembale menos e descasque mais” ou seja, sempre que tiver a oportunidade, opte por alimentos conhecidos como in natura, como frutas (inteiras ou na forma de sucos), verduras e legumes. A mensagem aqui é evitar os ultraprocessados e processados como biscoitos, salgadinhos ou demais “snacks”, balas, embutidos, gelatinas e similares;

 

  • Atitude positiva com a vida: esta pode ser uma das conquistas mais desafiadoras e mais benéficas que podemos cultivar. A aceitação do que está em nossa vida não significa que não podemos mudá-la, nos tornando pessoas resignadas e ressentidas, mas sim que podemos reconhecer esta condição e de forma consciente mudar o que pode ser mudado e desfrutar muitas vezes as pequenas coisas boas da vida. Esta postura favorece a liberação de substâncias ou neurotransmissores que protegem a saúde mental e cardíaca; além disso, diminuímos a liberação de hormônios do estresse como adrenalina e cortisol, que estão envolvidos com o desenvolvimento de algumas doenças importantes da atualidade; 


  • Ter uma vida naturalmente ativa: mais do que ir à academia diariamente, e exercitar-se buscando uma alta performance, estas pessoas têm uma vida ativa de forma cotidiana: cuidar do jardim, dos quintais das casas, fazer caminhadas, mover-se em suas casas e próximo a elas.  Não estou aqui comentando que não devemos fazer exercícios físicos planejados, com sim que as atividades cotidianas que estamos perdendo na atualidade com tantas tecnologias, devem ser retomadas e cultivadas pois também desempenham o seu papel em nossa saúde;


  • Ikigai ou viver com propósito: desta forma você sentirá motivação para buscar os seus ideais e viver uma vida com mais valor.

Estes são alguns dos princípios e atitudes cultivadas pelas pessoas longevas e que vivem nestes locais conhecidos como Blue Zones. Espero que você tenha notado que é possível aos poucos, incorporar estas atitudes em seu dia a dia, buscando uma vida mais autônoma e saudável, e se possível, até os 90 anos ou mais!

*O conteúdo desta matéria tem caráter informativo e não substitui a avaliação de Profissionais da Saúde.

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.

Referências Bibliográficas

https://www.bluezones.com/
Buettner D, Skemp S. Blue Zones: Lessons From the World’s Longest Lived. Am J Lifestyle Med. 2016 Jul 7;10(5):318-321. doi: 10.1177/1559827616637066. PMID: 30202288; PMCID: PMC6125071.
Appel, L. J. (2008). Dietary Patterns and Longevity: Expanding the Blue Zones. Circulation, 118(3), 214–215.